sábado, 28 de janeiro de 2012

A teoria dos pratinhos

Alguns anos atrás, semanalmente, eu fazia uma viagem de aproximadamente 100 km em função do meu trabalho. Assim como eu, outros colegas professores faziam o mesmo e acabamos por formar um grupo bem legal de amigos. Íamos num dia e voltávamos no outro.


Numa destas idas e vindas, Giselle me apresentou a “teoria dos pratinhos”. Foi uma revelação bombástica na minha vida e toda vez que tenho oportunidade passo-a adiante.


Hoje acordei com um sorrisinho maroto e uma carinha de safada - que mais adiante vou explicar - e não consigo parar de pensar em compartilhar a tal teoria. Vamos a ela:

          
           As pessoas interessantes nas nossas vidas – leia-se “aquelas que queremos mais do que uma simples conversa” - são como aqueles pratos do equilibrista de circo. Estão suspensas sobre uma vareta e de quando em quando é preciso dar aquela balançadinha para que não caiam e se quebrem.


Pratinho é uma relação de reciprocidade e, óbvio, as “balançadinhas” têm que vir dos dois lados. Um telefonema, um torpedo, uma conversa rápida (ou demorada) no msn, uma postagem e/ou uma curtida no facebook (nada de cutucadas, peloamordedeus!), um chopp, uma sugestão de filme, um olhar, um toque.


Quando explico a teoria dos pratinhos para a alguém, acho engraçado perceber que todos se identificam com ela. É claro que os solteiros mais prontamente do que os casados ou já comprometidos, mas todos, sem dúvida, conseguem ser ver balançando ou sendo balançado por alguma pessoa.


Depois que descobri esta teoria, comecei a entender melhor e a curtir muito mais o meu relacionamento com os homens. Desencanei. Relaxei. Deixei para trás ideias e preconceitos que adquiri ao longo da minha criação familiar totalmente atrelada aos valores religiosos castradores. Passei a ter uma visão mais masculina – e isso não é de forma alguma uma crítica – sobre a sexualidade (a minha e a do outro). Tornei-me mais pragmática.


Não! Não me tornei promíscua. Os meus pratinhos geralmente são amigos de quem gosto muito, carinhas com os quais tenho afinidades, que têm bom papo, são sensíveis e carinhosos. Viram-se adultos de uma hora para outra e, por isso, muitas vezes são complicados e dispersos como eu. Tiveram, têm ou desejam ter um relacionamento, mas percebem que viver a vida adulta sozinho também pode ser muito, muito interessante.

Encarar uma vida de pratinhos requer uma dose considerável de maturidade e desprendimento.  Inevitavelmente criaremos expectativas e é preciso saber dosá-las para evitar cobranças e frustrações que nada têm a ver com o relacionamento pratinho-pratinho.


Entretanto, no primeiro semestre do ano passado, como uma mulher romântica que sou, apaixonei-me e fui correspondida. Deliberadamente deixei que todos os meus pratinhos se quebrassem. A paixão acabou e passei por uma fase sem paciência para eles.


Contudo, eis que numa noite chuvosa, completamente despretensiosa e totalmente avessa à aquisição de pratinhos, o telefone toca. O tal sorriso maroto e a carinha de safada que percebi hoje de manhã no espelho, e vou além, a cabelo sedoso, o olhar malicioso, as mãos que digitam sedutoramente este texto devem-se a este novo pratinho e a alegria de viver uma vida sem culpa.


Como pagamento as benfeitorias feitas, à você pratinho delicioso, dedico este texto.

Niterói, 28 de janeiro de 2012.

Opção pela não-maternidade, eu compartilho desta decisão.


quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Meu triângulo amoroso com Bentinho e Capitu

           Dias atrás, alterei meu status de relacionamento no facebook. Mudei de “solteira” para “em um relacionamento sério”. Achei engraçada a quantidade de amigos que “curtiram” e “comentaram” a postagem. Alguns inclusive, desejaram-me sorte e felicidade no novo relacionamento, outros felicitaram o suposto objeto do meu comprometimento. Poucos (ou nenhum) se deram conta do complemento que fiz. O meu relacionamento sério era – estava lá escrito - com Betinho e Capitu.
Agora a pouco terminei de ler o livro Dom Casmurro e me sinto mesmo como se tivesse terminado um romance, não um gênero literário, mas um relacionamento, uma história de amor, no caso, um triângulo amoroso. Neste exato momento estou curtindo uma enorme dor de cotovelo! Durante as duas últimas semanas em que estou gozando férias para lá de molhadas, os personagens de Machado de Assis invadiram o meu mundo e me fizeram companhia. Por eles apaixonei-me e com eles sorri, chorei, gargalhei, sonhei. Eles me fizeram refletir, criar expectativas, sentir saudade, ciumes, inveja. Por fim decepcionei-me e agora estou melancólica.
Já tinha lido esse livro na adolescência. É bom ressaltar que na ocasião o li por vontade própria, não porque a escola mandou. Mas, apesar de ter lido por que queria, lembrava-me pouco da história: o jeito tímido do Bentinho, os olhos de ressaca da Capitu - que só agora entendi que era ressaca do mar - e a polêmica sobre a traição dela. Da primeira vez, como era menina e inocente, tinha certeza que a traição era fruto da imaginação paranóica e dos ciúmes de Bentinho. Hoje, confesso que estou na dúvida, apesar do Otto Lara Resende e outros machadianos ferrenhos afirmarem categoricamente que essa não há, ou seja, Capitu traiu Bentinho!
Citei o tal jornalista não para tirar uma onda de inteligente e bem informada, mas para falar de outro livro lido no início das férias e que motivou a novamente ler Dom Casmurro. Trata-se do Quem é Capitu? – Contos, crônicas e ensaios sobre a personagem mais enigmática da literaruta brasileira. Além destes dois materias e por estas coincidências que acontecem na vida, um amigo me visitou e, sem saber o que eu estava lendo, trouxe para vermos juntos o DVD da série Capitu que passou na TV em 2009 (recomendo, aliás). Enfim, foi quase uma imersão no universo de Dom Casmurro. Daí este sentimento de viuvez ao término da leitura.
E por falar em viuvez, lembrei-me de uma personagem apagadinha, a meu ver, do livro. Trata-se de Sancha, esposa de Escobar. Mas nem é dela que quero escrever. Quero falar do próprio Escobar. Ele é o tipo de homem que abomino, ou seja, “é o cara”: bonitão, fortão, autossuficiente, interesseiro, sagaz e metido e, mesmo tendo minhas dúvidas sobre a traição de Capitu, não as tenho quanto a Escobar: ele é um traidor!
Capitu é uma jovem atrevida, de pensamento rápido e atitudes firmes, espirituosa, pragmática, curiosa, sedutora. O cisne negro do filme em que estrelou Natalie Portman. Se Capitu “deu” ao não para Escobar, isso é o menos importante, o que tenho certeza é que ela amava Bentinho. Suponho até que, se ela teve um relacionamento físico com Escobar, foi justamente uma tentativa de dar um filho ao seu marido que tanto ansiava por isso. Bentinho é um rapaz tímido, romântico, sensível, apaixonado, devotado e bom amigo. Mantem todas estes traços na vida adulta, acrescentando um ar sedutor muito discreto e, para mim, irresistivel. Tirando a possessividade, é o homem que gostaria de ter ao meu lado.
Mas, como toda história de amor um dia se acaba, a minha com estes personagens teve um fim hoje. No entanto, como em quase todos os relacionamentos, ficam a cumplicidade, a experiência e a saudade. Fato é que voltei ao status de solteira, mas ainda restam alguns dias de férias, quem sabe com quem vou me envolver ainda?


Bia Maia Neves.
Niterói, 10 janeiro de 2012.