Quem
é esta pessoa que tenho convivido nestes últimos anos? Uma mulher estranha que
invadiu a minha casa, o meu espaço e tem se instalado de maneira irresistível
na minha vida.
Chegou tímida naquela tarde de outubro de alguns anos atrás quando, após um consenso, “ele” saiu pela porta para não voltar mais. No início permaneceu calada, respeitando minha dor, mas aos poucos foi se apresentando.
Ajudou-me a me desfazer de medos bobos como o medo do escuro, de fantasma, de bichos e, principalmente, o medo de ficar sozinha. Aliás, fez-me ver que essa condição não é tão mal assim e que eu sou uma boa companhia, inclusive para mim mesma.
Ela me levou a tomar atitudes que já deveriam ter sido tomadas há muito tempo, como o de gostar e cuidar bem de mim. Levou-me a acreditar que algumas visitas ao terapeuta talvez me ajudassem. E não é que ela estava certa?
Mexeu com minha a minha frágil auto-estima. Não sem grande esforço fez mirar-me no espelho para me mostrar o quanto sou bonita e que um corpo com volume tem sua sensualidade. Comecei a usar camisetas sem mangas, vestidos, cores, decotes, salto alto e maquiagem.
Fez-me entender que não adiantava ficar reclamando do calor, do frio, do carro que não tenho, do meu trabalho, do meu corpo, da minha vida. Disse-me que ficar repetindo ao mundo o quanto era infeliz, mal remunerada e injustiçada não ajudaria absolutamente nada, só me tornaria uma pessoa muito chata. Mais produtivo seria começar a fazer escolhas mais acertadas.
Exigiu-me que abandonasse a adolescente que eu teimava em ser e assim, tateando, porém, sem medo, adentrei, finalmente, na vida adulta. Maravilhei-me com uma independência e liberdade nunca antes experimentadas. Parei de sentir aquela estranha sensação de que minha vida ainda ia começar em algum momento. Comecei a viver com entusiasmo.
Mostrou-me que os sonhos de outra época eram bonitos, mas, como sonhos que eram deveriam ficar no seu devido lugar. Segura, positiva e animada disse-me que eu deveria ter projetos concretos e realizáveis e me ensinou a estabelecer prioridades.
Quanto aos homens, me disse para ser compreensiva e tolerante, mas que eu me respeitasse acima de tudo e que nunca mais me contentasse com migalhas. No entanto, me fez entender que deveria aceitar de bom grado e sem culpa alguns momentos de felicidade.
Mulher estranha esta!
Onde você estava nos últimos trinta e
oito anos?
Como assim “dentro de mim”?
Como foi possível nunca ter te encontrado antes?
De
qualquer maneira, agradeço por ter despertado e se revelado no momento certo.
Bia, muito ótimo o post!
ResponderExcluirA ilustração então... genial!
Beijos,
Lilian
Uau! Gostei muito Bia. Parabéns!!!!Amadurecimento também na escrita!
ResponderExcluirBia, você escreve como se preparasse um delicioso doce, exalando perfumes em forma de palavras que ao final da receita surge um delicioso sabor de idéias e considerações. Parabéns, vai fundo!
ResponderExcluirBia, conforme havia dito a você, sou meio preguiçoso para leituras grandes, mais
ResponderExcluirtomei vergonha e as estou fazendo. Estou gostando, e este último me fez lembrar
uma música do ULTRAJE A RIGOR que diz: "há muito eu vinha me procurando tanto tempo faz, já nem lembro mais....... eu me amo, eu me amo, não posso mais viver sem mim......
ô, meu irmão, fico muitíssimo feliz pela leitura. Além de ter um homem começando a ler "textos grandes" com o que escrevo, é bom saber que uma pessoa que me conhece desde sempre vai me conhecendo de fato. Obrigada!
Excluirah... adorei a comparação com a música! graças a você sou fã do ULTRAJE.
ExcluirBia, sou fã incondicional de crônicas e adorei o seu blog. Parabéns pela coragem de se expor!! Beijos e continue!
ResponderExcluirPatricia
Bem sincero!
ResponderExcluirE bem bom! Gostei de novo.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir(agora sim vou postar o comentário certo! rs)
ResponderExcluirExcelente a estruturação do texto: bem ritmado, sem excessos, coeso. E as ideias também são muito boas - me identifiquei em várias partes!
Espero vc logo na Oficina! rs
Bjs!
Nossa amiga, adorei!
ResponderExcluirEsta escrevendo bem pra caramba!
Tive o prazer de conhecer você e a mulher estranha. rs
Fico feliz, que está amadurecendo feliz!
Fabricia
Freud em seu artigo "O Estranho" fala que o estranho traz em si algo de bem conhecido.Essa outra que comparece e é tida como estranha já estava em você emudecida pelas certezas do seu eu.Quando aquelas certezas não se apresentaram tão certas a estranha pode se apresentar e dar os seus palpites.Esse diálogo dos "eus" ganha sempre um espaço na Literatura.Grandes autores já trabalharam este tema.Parabéns pra você que expõe aqui sua sensibilidade e que nos aproxima muito mais do que eu achei que estávamos próximos.
ResponderExcluirbjs
Roberto
Valeu, Roberto! Adorei seu comentário!
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