segunda-feira, 21 de outubro de 2013

O FEITIÇO DE ÁQUILA


          Um clássico da sessão da tarde global dos anos noventa, O Feitiço de Áquila, estrelado por Michelle Pheiffer, Rutger Hauer, Matthew Broderick e grande elenco é ambientando numa pequena cidade europeia do século XII. [1] Áquila é governada por um corrupto bispo que nutre uma paixão doentia pela bela Isabeau. Esta, no entanto, amava e tinha seu amor correspondido pelo capitão Navarre.
     Sem conseguir viver sua paixão, o invejoso e ciumento presbítero faz um pacto com o demônio e ganha o poder de conjurar uma terrível maldição sobre os dois amantes: dali por diante, para sempre, Isabeau seria um belo falcão durante o dia, retornando à sua forma humana à noite, enquanto Navarre passaria seus dias como humano, transformando-se, todas as noites, em um lindo e solitário lobo.
A história de amor impossível entre o imponente cavaleiro e a bela dama é uma metáfora para o sol e a lua, que, assim como o jovem casal, nunca se encontram.

Trazendo a história para a vida real, ontem, sob as luzes alaranjadas do crepúsculo de um lindo sábado, me joguei na cama desanimada ao constatar que meu dia findava e a noite se apresentava. Meu amado, por sua vez, arrumava-se animadíssimo para nossa baladinha noturna.
Hoje, com as luzes do dia que invadiam meu pequeno lar suburbano, despertei feliz da vida ao passo que meu “namorido” resmungava e se enroscava em mim, prendendo-me à cama cobiçando minha companhia para dormir mais um pouco.
Eu e meu consorte não chegamos ao extremo dos personagens da película acima ou do sol e da lua, mas não é de hoje que temos nossos embates para organizar nossos dias e noites vividos em comum.
Sou ativa, animada e muito produtiva durante o dia, principalmente pela manhã. Meu ponto alto é às 11h. Por volta das 16h meu ritmo diminui consideravelmente e sou um nada a partir das 18h. Se eu vivesse apenas entre pares da mesma espécie, seria o melhor dos mundos. Contudo, há pessoas queridas - com as quais pretendo continuar partilhando o chão da caminhada desta vida - que possuem relógio biológico avesso ao meu, como é o caso da minha querida amiga-doutora, Shirley Torquato.
Só para ilustrar, lembro-me que num domingo desses tínhamos combinado de curtir uma praiana juntas. Mas, sabedora de nossas diferenças de fuso horário, eu me adiantei e acertamos de nos encontrarmos no local. Muitas horas depois ela me telefona dizendo que estava chegando. Eu avisei que já estava no calçadão com os pés livres da areia e pronta para ir embora, foi quando ela, do outro lado da linha, exclamou: “Caramba! Estamos vivendo o feitiço de Áquila”.

Fiquei com a frase guardada nas gavetas da memória e hoje, enquanto caminhava e me nutria de vitamina D, fiquei calculando quantas pessoas do meu convívio estariam aproveitando aqueles saudáveis raios solares de uma manhã de domingo e quantas estariam entregues a Morfeu. Pronto! A semente desta crônica foi plantada. No entanto, por essas ironias da vida, foi preciso uma raríssima madrugada insone para que ela germinasse, brotasse e nascesse.


            É fácil perceber que na natureza há pessoas como as ariranhas, os camaleões, os quatis e os orangotangos que são ativos e produtivos durante o dia, enquanto há outras que mais se assemelham ao jacaré de papo amarelo, aos morcegos, às corujas, às onças pintadas e aos juparás, que têm hábitos noturnos. Por outro lado, há aqueles os que são flexíveis e conseguem se adaptar tanto ao dia, quanto a noite como é o caso do tamanduá-bandeira, o bicho preguiça e o peixe boi. Entre estes animais, a vida é mais simples, pois eles vivem entre pares, mas com os humanos a história é diferente: bias, flavios, shirleys, josés, andreias, ritas e joaquins, mesmo sendo de espécies diferentes, querem e precisam conviver.
Sendo assim, a mãe natureza, em sua grande sabedoria, permitiu alguns lapsos, como o eclipse, por exemplo, para fazer com que estas espécies se encontrem, se unam e se multipliquem.

“Haverá uma noite sem um dia e um dia sem uma noite”.
Fala do personagem Imperius, que, com a sua língua grande, foi o responsável pelo inferno que os amantes Isabeau e Navarre passaram a viver. Consumido pela culpa de ter revelado o segredo de confissão da bela dama, o velho padre passa seus dias afogando a vergonha em álcool. Contudo, disposto a redimir-se com o casal e com Deus, o religioso dedica-se a estudar uma maneira de promover um encontro entre os apaixonados e, assim, prevê um eclipse solar que poderia quebrar o feitiço.












[1] Sinopse adaptado da página eletrônica: