terça-feira, 26 de agosto de 2014

Se TUDO der certo, viro hippie! (e a vontade não passa!)

    Para ser bem precisa, foi no inverno de 2010 que começou essa comichão que não para mais...
         Banhava-me em alguma cachoeira de Lumiar. Tinha ido passar uns dias de férias com uma amiga e sobrinha e, desde então, vira e mexe, penso em largar tudo (?) para morar no mato. Não, não ia virar bicho grilo totalmente. Isso não! Iria continuar sendo uma funcionária pública respeitável ao manter minha matrícula na rede estadual de educação e daria minhas aulinhas de sociologia no ensino médio. Conciliaria minhas horas diárias mantendo um pequeníssimo comércio, cultivaria uma hortinha, cozinharia minhas comidinhas pseudossaudáveis e, de vez em quando, conforme a minha vontade, alimentaria meu blog. Passaria horas no facebook... Ah! Que delícia!
Comecei a achar que estava ficando meio maluca ao querer remar contra a corrente. Passei e me sentir distante das expectativas pequeno burguesas de ter um carro e investir numa “carreira de sucesso” que consiste em trabalhar, competir, consumir, ostentar, trabalhar mais... Socorro!

E aí, numa destas conspirações cósmicas inexplicáveis (será?), chegam até a mim, quase ao mesmo tempo, um texto e um filme para provar que não estou sozinha nessas reflexões “ripongas”.

O filme Chef é uma produção independente, de baixo orçamento que não escapa de alguns clichês sem, contudo, deixar de divertir. Apesar do Rubens Edward Filho ter decido o cacete em sua crítica, o filme é, no meu modestíssimo ponto de vista, comovente e delicioso – tão delicioso quanto a comida que vira personagem na trama.  Aliás, para quem gosta de culinária (chique e trash), o filme é um prato cheio!



Como não sou crítica de cinema, vou lhes poupar de resenhá-lo, mas gostaria apenas de destacar o que a película tem a ver com meu atual estado de ânimo em relação ao mundo do trabalho: o personagem principal dá uma chutada de balde bonita que lhe obriga a repensar a vida e buscar novos caminhos.

A propósito, “chutar o balde” é o tema do texto que chegou as minhas vistas dia desses, no qual compartilho o link abaixo. É preciso deixar claro que minha situação profissional e financeira não chega nem perto da realidade das pessoas citadas, mas, assim como elas, estou doida para aderir à nova modalidade esportiva chamada “balde a distância”!

Para entender, acesse Geração X está chutando o balde


segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Bem-vindos à vida adulta!

Já deve fazer mais de dois anos, mas a conversa que tive com um amigo em certa ocasião não me sai da cabeça. Ele se lamentava dizendo que se sentia um homem incompleto por ainda morar na casa dos pais e por não ter filhos. Com seus quarenta e poucos anos, o meu amigo dizia que queria se sentir adulto tendo contas domésticas para pagar. Prontamente ofereci as minhas para que ele assumisse. Ele não foi nada gentil ao recusar minha oferta.
Cada pessoa descreverá um marco simbólico para a entrada na vida adulta: talvez a perda dos pais os tenha feito amadurecer. Tenho a sorte de ter meus pais vivos, mas acredito que a experiência de se perceber, de uma hora para outra, como o único responsável por sua vida deva ser uma situação realmente dramática que faça amadurecer qualquer pessoa. Ou, por outro lado, tê-los vivos, mas testemunhar uma inversão de papeis ao cuidar dos pais idosos, fará com que qualquer um cresça rapidamente.
Alguns afirmarão que amadureceram depois daquela primeira viagem desacompanhado ou acompanhados apenas do namorado(a). Ou depois de amargurem sua primeira desventura no amor. Quando visitaram pela primeira vez um sexy shop ou quando finalmente sentiram-se bem resolvidos com sua sexualidade.
Outros talvez concordem com meu amigo e tenham se percebido como adultos quando começaram a ter contas para pagar - mesmo que estas consistam em faturas de cartão de crédito com despesas feitas nas Lojas Americanas comprando chocolates ou nas muitas cervejas e cachaças entornadas naquele pé sujo que, surpreendentemente, aceitava cartão.
Contudo, acredito que o rito de passagem para a vida adulta para a grande maioria das pessoas se deu a partir do exercício da profissão, seja dando aulas, atendendo seus primeiros pacientes, vendendo roupas num loja, administrando o seu negócio ou de outros e quando fizeram sua primeira declaração de renda. Muitos ficaram assustados quando perceberam que teriam que procurar e marcar por conta própria algumas consultas com médicos de diferentes especialidades e se deram conta que, daqui para frente, seriam os únicos responsáveis pelo próprio bem-estar, inclusive com a absurda tarefa de abastecer a dispensa de sua casa com alimentos e itens material de limpeza e passaram a entender o que é “custo de vida” que seus pais tantos falavam.
Outros dirão que, ao viver a maternidade/paternidade e a inerente e inevitável responsabilidade por uma ou mais vidas os tenha feito amadurecer na marra.
Outros se deram conta, mesmo a contragosto, de que se tornaram adultos quando passaram a ser chamados por estranhos na rua com pronomes de tratamento tais como “moço/moça”, “tia/tio”, “senhor/senhora”.   Criança e adolescente não é “moço’, é “cara”, “garoto/garota”, “moleque/menina”.
Da minha parte, tenho que concordar com o meu amigo ao menos numa coisa: Só comecei a amadurecer quando saí da casa dos meus velhos. Foi aí que comecei a parar de achar que minha vida iria começar a qualquer momento e passei a vivê-la de fato.
Num processo longo, parei de ter medos bobos e alimentei, em doses muito homeopáticas, minha relativa independência e minha (frágil) autoconfiança. Pode parecer paradoxal, mas me senti adulta quando comecei a me permitir ter crises de mulherzinha sem abrir mão das minhas convicções feministas.
A maturidade me trouxe também uma preguiça para a militância política e a perda da paciência com os radicais e suas oposições improdutivas. Sem abrir mão de alguns princípios, parei de peitar situações e pessoas com veemência e aprendi a ter um pouco mais jogo de cintura, fazendo algumas concessões, ao mesmo tempo em que aprendi a dizer NÃO.
Outros sintomas do “adultecimento” se apresentaram: fiquei loira, passei a freqüentar com mais regularidades os salões de beleza e, sem pensar no que estava fazendo, comecei a gastar mais tempo diante do espelho analisando as ruguinhas e linhas de expressão no meu rosto. Desesperada, acabei adquirindo vários produtos da linha Renew da Avon e tantos outros itens de maquiagem que, para falar a verdade, pouco uso.
Apesar de ainda preferir pulseiras de sementes ou outros materiais naturais, brincos confeccionados por hippies e artesãos, passei a usar acessórios douradas - típicos de mulheres adultas - em ocasiões especiais.
Engraçado lembrar quando eu era adolescente e tinha que “visitar” às bolsas das minhas irmãs mais velhas por algum motivo, bradava revoltada dizendo que nunca teria bolsas como às delas. Achava ridícula esta coisa de “bolsa de mulher” cheia de inutilidades. Hoje, tenho horror às bolsas de grife a la Louis Vitton, Victor Hugo, etc. e, tal qual uma adolescente, prefiro usar mochilas e bolsas de lona coloridas. Mas estas cresceram de tamanho e de peso com tantas coisas “indispensáveis” para carregar.
No quesito prazer, houve uma mudança radical!
Sabe aquele desespero de sair de casa? Não tenho mais! Comecei a perder o pique para noitadas longas e fiquei muito seletiva para abrir mão do conforto do meu minúsculo, mas agradável lar. Para ilustrar esta situação, é preciso lembrar do longo período (recente) de solterice, quando ficava tranquilamente em casa em plena sexta-feira tomando um vinhozinho deitada sozinha na rede na minha varandinha.
Aliás, não foi só para as noitadas que eu perdi o pique. Os programas diurnos também começaram a ser repensados e escolhidos a dedo. Dispenso sem pestanejar programas potencialmente irritantes como churrascos barulhentos, festas de rua, boates da moda, barzinhos calorentos, aniversários de criança e vou - muito a contragosto, confesso - a chá de panelas e de bebê apenas de pessoas muito próximas a mim.
Feiras temáticas de grande circulação só não dispenso a Bienal do Livro (isso se tiver alguém que me leve de carro, claro!). Aliás, carro é um pré-requisito para me tirar de casa. Se não tem carona ou a distância é grande demais que fique inviável o uso de táxi, não conte comigo.
Quando se é adulto, o tempo livre vale ouro! Afinal, na labuta diária, as horas (in) úteis dos dias de semana são cronometradas devido aos milhares de compromisso e responsabilidades. Mas, quando um adulto relaxa, perde a pressa e a urgência das coisas, e, por isso se atrasam com tanta frequência.
Senti-me adulta também quando percebi que, mesmo tendo passado dos trinta anos, posso ter momentos de infantilidade e de velhice. Inclusive, passei a ser mais condescendente com os idosos e adolescentes, entendendo que tudo tem sua época ou, melhor, que carregamos um pouco de todas as idades dentro de nós e não temos, necessariamente, que seguir padrões de comportamento. Muitas vezes me surpreendo positivamente com os papos bobos, divertidos e descomprometidos entre amigos e penso “então ser adulto é isso?”.
Tal qual uma adolescente, me pego vibrando com filmes de aventura e lendo livros e gibis infanto-juvenis. Em outras ocasiões me pego tento crises de meia idade ou reclamando como uma velha rabugenta.
Mais do que ter me tornado (e esteja me sentindo) uma pessoa adulta, a verdade é que estou envelhecendo e juro, isso não é um lamento. Afinal, o velho ditado está aí para nos lembrar que “só não envelhece quem morre jovem”. E assim conformo-me com a resistência física que já não é a mesma, com a vista que já não enxerga tanto e com a carne que já não é mais durinha.
Se você se identificou com um, dois, três, muitos ou todos os sintomas que descrevi, seja bem-vindo(a) à vida adulta! Independente de sua idade, tendo 18, 25, 30, 38, 40, 50, 60, não se grile com o fato de estar envelhecendo, pois manter (ou não) a “alma” jovem é uma tarefa que, assim como todas as outras da vida adulta, depende única e exclusivamente de você, afinal como bem lembra Simone de Beauvoir...

O que é um adulto? Uma criança de idade."


Niterói, iniciado em 07 de maio de 2012 e concluído em 24/02/2014.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

O FEITIÇO DE ÁQUILA


          Um clássico da sessão da tarde global dos anos noventa, O Feitiço de Áquila, estrelado por Michelle Pheiffer, Rutger Hauer, Matthew Broderick e grande elenco é ambientando numa pequena cidade europeia do século XII. [1] Áquila é governada por um corrupto bispo que nutre uma paixão doentia pela bela Isabeau. Esta, no entanto, amava e tinha seu amor correspondido pelo capitão Navarre.
     Sem conseguir viver sua paixão, o invejoso e ciumento presbítero faz um pacto com o demônio e ganha o poder de conjurar uma terrível maldição sobre os dois amantes: dali por diante, para sempre, Isabeau seria um belo falcão durante o dia, retornando à sua forma humana à noite, enquanto Navarre passaria seus dias como humano, transformando-se, todas as noites, em um lindo e solitário lobo.
A história de amor impossível entre o imponente cavaleiro e a bela dama é uma metáfora para o sol e a lua, que, assim como o jovem casal, nunca se encontram.

Trazendo a história para a vida real, ontem, sob as luzes alaranjadas do crepúsculo de um lindo sábado, me joguei na cama desanimada ao constatar que meu dia findava e a noite se apresentava. Meu amado, por sua vez, arrumava-se animadíssimo para nossa baladinha noturna.
Hoje, com as luzes do dia que invadiam meu pequeno lar suburbano, despertei feliz da vida ao passo que meu “namorido” resmungava e se enroscava em mim, prendendo-me à cama cobiçando minha companhia para dormir mais um pouco.
Eu e meu consorte não chegamos ao extremo dos personagens da película acima ou do sol e da lua, mas não é de hoje que temos nossos embates para organizar nossos dias e noites vividos em comum.
Sou ativa, animada e muito produtiva durante o dia, principalmente pela manhã. Meu ponto alto é às 11h. Por volta das 16h meu ritmo diminui consideravelmente e sou um nada a partir das 18h. Se eu vivesse apenas entre pares da mesma espécie, seria o melhor dos mundos. Contudo, há pessoas queridas - com as quais pretendo continuar partilhando o chão da caminhada desta vida - que possuem relógio biológico avesso ao meu, como é o caso da minha querida amiga-doutora, Shirley Torquato.
Só para ilustrar, lembro-me que num domingo desses tínhamos combinado de curtir uma praiana juntas. Mas, sabedora de nossas diferenças de fuso horário, eu me adiantei e acertamos de nos encontrarmos no local. Muitas horas depois ela me telefona dizendo que estava chegando. Eu avisei que já estava no calçadão com os pés livres da areia e pronta para ir embora, foi quando ela, do outro lado da linha, exclamou: “Caramba! Estamos vivendo o feitiço de Áquila”.

Fiquei com a frase guardada nas gavetas da memória e hoje, enquanto caminhava e me nutria de vitamina D, fiquei calculando quantas pessoas do meu convívio estariam aproveitando aqueles saudáveis raios solares de uma manhã de domingo e quantas estariam entregues a Morfeu. Pronto! A semente desta crônica foi plantada. No entanto, por essas ironias da vida, foi preciso uma raríssima madrugada insone para que ela germinasse, brotasse e nascesse.


            É fácil perceber que na natureza há pessoas como as ariranhas, os camaleões, os quatis e os orangotangos que são ativos e produtivos durante o dia, enquanto há outras que mais se assemelham ao jacaré de papo amarelo, aos morcegos, às corujas, às onças pintadas e aos juparás, que têm hábitos noturnos. Por outro lado, há aqueles os que são flexíveis e conseguem se adaptar tanto ao dia, quanto a noite como é o caso do tamanduá-bandeira, o bicho preguiça e o peixe boi. Entre estes animais, a vida é mais simples, pois eles vivem entre pares, mas com os humanos a história é diferente: bias, flavios, shirleys, josés, andreias, ritas e joaquins, mesmo sendo de espécies diferentes, querem e precisam conviver.
Sendo assim, a mãe natureza, em sua grande sabedoria, permitiu alguns lapsos, como o eclipse, por exemplo, para fazer com que estas espécies se encontrem, se unam e se multipliquem.

“Haverá uma noite sem um dia e um dia sem uma noite”.
Fala do personagem Imperius, que, com a sua língua grande, foi o responsável pelo inferno que os amantes Isabeau e Navarre passaram a viver. Consumido pela culpa de ter revelado o segredo de confissão da bela dama, o velho padre passa seus dias afogando a vergonha em álcool. Contudo, disposto a redimir-se com o casal e com Deus, o religioso dedica-se a estudar uma maneira de promover um encontro entre os apaixonados e, assim, prevê um eclipse solar que poderia quebrar o feitiço.












[1] Sinopse adaptado da página eletrônica:

domingo, 29 de setembro de 2013

MEIGUINHAS(OS) E RUDES

        Ela! Ela! Ela! Sempre ela! Eu deveria trocar o nome deste blog para “Um Tributo a Martha Medeiros”, tamanha a quantidade de referências à escritora gaúcha!

Pode parecer “puxa-saquismo” ou falta de assunto, mas o que posso fazer se essa danada sempre me inspira?          

Se ela escreve, eu leio e lendo-a, escrevo. É um ciclo vicioso! Para dar vazão a esse vício, existe o “Mulher Solteira...” que pode ser usado como ferramenta na recuperação de leitores compulsivos que leem qualquer coisa que lhes chega aos olhos: placas de carro, dizeres em portas de sanitários públicos, outdoors, bula de remédio, artigos acadêmicos (mesmo que não sejam de sua área de conhecimento), dentre outros. Leitores vorazes, inclusive, leem em qualquer lugar, até mesmo no banheiro.

Da minha parte, declaro solenemente que o toalete é o meu local favorito para ler. Desde pequena tenho este hábito. Estando ali à toa não vejo nada melhor a fazer do que ler para relaxar e deixar que a natureza e os meus músculos anais façam sua parte.

Conheço outras pessoas que gostam de ler no banheiro. Observando-as, reparei que algumas levam jornais e revistas para o seu santuário. O meu hábito é tão arraigado que resolvi investir nele adquirindo uma assinatura de gibis da Turma da Mônica. As visitas, que compartilham do mesmo hábito, agradeciam. Contudo, as revistinhas em quadrinhos pararam de chegar por falta de pagamento. Portanto, atualmente, quando bate aquela vontade de “meditar” no troco, quem me acompanha é ela, Martha Medeiros[1], seus livros de crônicas já ficam por ali.

Pois bem, todo esse preâmbulo foi para dizer que, depois de um longo e tenebroso inverno sem alimentar este modesto blog, a inspiração surgiu enquanto eu estava cagando.

Isso mesmo: CA-GAN-DO!

Ficou chocado(a) com a palavra chula? Seu diagnóstico: você é uma pessoa “meiguinha”.

“Meiguinhos” são educados, sensíveis, doces, carinhosos, atenciosos e, na maioria das vezes, tímidos. Não falam palavrões. Aparentemente são politicamente corretos e dificilmente expressam (pelo menos verbalmente) uma opinião maldosa sobre outra pessoa. São seres discretos. Suas roupas são impecáveis e as peças combinam umas com as outras. Seus gestos são suaves e contidos. Ficam com as bochechas rosadas quando notados. Sua presença é vista como agradável para alguns, mas passa despercebida para outros.

Os rudes, ao contrário, são nada comedidos. Possuem uma necessidade irremediável de serem sinceros que, via de regra, beira a inconveniência. Falam o que pensam sobre tudo e todos. São desbocados, riem alto e em bom tom. Perdem o amigo, mas não a piada. Têm atitude e iniciativa, mas só fazem o que têm vontade ou quando a paixão os move intempestivamente. São seres autênticos e, justamente por isso, são leais e altamente confiáveis (pré-requisitos necessários para um bom amigo).

Quando pedires conselhos aos rudes, não espere palavras generosas ou de incentivo, pois os rudes são indivíduos racionais demais para meias palavras ou“frescuras”, eles lhe dirão o que pensam friamente e sinceramente e, muito provavelmente, rudemente. Aliás, os rudes, não costumam esperar que sua opinião seja solicitada.

Os meigos jovens costumam ser considerados charmosos, pois sua meiguice e timidez podem ser confundidas com um ar de mistério idílico e, portanto, tidos como seres inatingíveis, que outros jovens podem valorizar. Mas, se permanerem doces com o passar dos anos, ou se transformam em adultos muito inseguros, ou muito dissimulados. Sendo assim, desconfie dos meigos crescidinhos.

Já os rudes jovens são diamantes em estado bruto que o tempo e a experiência vão polir. Mas se teimam em manter a brutalidade a qualquer preço, transformam-se em pessoas ásperas e, muitas vezes, desagradáveis. Contudo, quem consegue romper a casca grossa dos rudes, se surpreenderá ao constatar que os brutos também amam.

Rótulos à parte, seja qual for seu temperamento - meiguinho ou rude -, sendo jovem ou adulto, cada um sabe a dor a delícia de ser o que é.





[1] Espero que, se um dia esta informação chegar as suas mãos, desejo que minha musa inspiradora não se ofenda.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Perdas e Ganhos

Ela própria não sabe, mas me considero amiga íntima da Martha Medeiros, escritora gaúcha que parece tomar as minhas angústias, pensamentos e reflexões como material para escrever suas crônicas e publicá-las em livros como Divã, Feliz por nada, Doidas e Santas e tantos outros. Talvez você, mulher que me lê agora, irá pensar que são nas TUAS vivências que a escritora tira o material. Entretanto, não se engane, pois eu tenho certeza que são nas MINHAS experiências e sentimentos que ela se inspira, afinal, como disse antes, sou amiga íntima da celebridade em questão.
A intimidade com a Martha é tanta que já a citei em vários escritos anteriores. Na verdade, a escritora é a minha musa inspiradora, a responsável pela criação deste modesto blog. E mais uma vez, graças a ela, depois de uma longa pausa que durou um verão completo, cá estou eu escrevendo para quem quiser ler.
     E por falar em verão, pode parecer bobagem, mas a troca de estação, e, no meu caso, a entrada do outono, me faz ter vontade de trocar as folhas, me desapegar de alguns elementos da minha natureza, mudar a paisagem da minha vida e é neste ponto que entramos no assunto desta crônica: perdas e ganhos. Os mais velhos, ops, os mais antigos, talvez se lembrem do filme Perdas e Danos estrelado por Jeremy Irons e Juliette Binoche em 1992. O título é parecido – quase um plágio - mas esta crônica pouco tem a ver com ele.
Adentremos, enfim, no assunto...
Depois de um verão chuvoso, quente e preguiçoso sob alguns aspectos, tenho tentado, com todas as minhas forças, abandonar alguns maus hábitos ganhos, adquirir alguns novos e retomar outros bons que tinham sido perdidos. Um destes é o hábito da leitura.
Como estou destreinada, achei por bem retomá-lo a partir da leitura de algo leve e atrativo e aí dei de cara com o novo livro “dela” – não vou repetir o nome mais uma vez para não parecer puxa-saquismo – Um lugar na janela, relatos de viagem.
Como podemos intuir pelo próprio título, Martha nos descreve suas experiências expedicionárias por este mundão afora e, de novo, brotou em mim aquela saudade de coisas não vividas, mas isso já está registrado em outra crônica.
Contudo, um relato, em especial, me fez pensar na questão de desapego. A cronista conta que passou uma breve temporada morando em Santiago do Chile e, ao fim de oito meses de estadia, ela e o marido, ao se prepararem para voltar ao Brasil, venderam tudo o que tinham de material dentro do apartamento a ponto de, na última noite no Chile só terem um colchão no chão.
Ela partilha um aprendizado que, a meu ver, é muito valioso em tempos de proliferação de casos de acumuladores patológicos. Martha diz que foram embora carregando apenas o que haviam vivido e todas as emoções. Não pagaram excesso de bagagem no voo de volta e, ao chegaram ao Brasil, tiveram uma gostosa sensação de leveza. Deixou de lado o zelo excessivo por coisas que foram feitas apenas para usar, e não para se amar e concluiu dizendo que descobriu a “irrelevância de quase tudo que é material”.
Sou eu!!!!!!! Mais do que nunca tenho certeza que ela me usa como cobaia para escrever!
Veja bem, apesar de nunca ter saído do Brasil, já me mudei várias vezes. Só para constar, desde que saí da casa dos meus em 2005, já troquei de habitat cinco vezes e, geralmente, para espaços cada vez menores. A cada mudança fui me desfazendo, com muita facilidade, de móveis, roupas, papéis, utensílios de cozinha, eletrodomésticos e objetos de decoração. Diferente da Martha, eu fui dando estas coisas, e não vendendo.
Tenho o seguinte critério: se não uso a coisa durante seis meses, passo a acreditar que nunca mais vou precisar dela e assim, quase toda semana, a moça que faz faxina na minha casa leva algo que eu julgo que será mais útil para outra pessoa: um pote, uma panela, um produto cosmético, um sapato, um jogo de lençol. Eu perco, mas alguém ganha.
E por falar em faxina, adoro arrumar armários e gavetas, pois é uma oportunidade de me livrar de coisas que não têm mais lugar na minha vida e assim fui ganhando mais espaço físico e simbólico.
Falando em me livrar de coisas desnecessárias, recentemente livrei-me de muitos quilos. Para ser exata, eliminei quarenta e três quilos e duzentos gramas (isso mesmo, 43k!) nos últimos oito meses. Por conta disso, fui doando - com muito prazer, obrigada! - todas as minhas roupas do antigo manequim, mesmo aquelas roupas novas que eu havia comprado pouco tempo antes da cirurgia. Com a redução do tamanho, perdi também aquela preguiça crônica de fazer atividades físicas e ganhei agilidade e outras pequenas e grandes coisas que facilitam a minha vida cotidiana.
Em outras ocasiões, apesar de adorar minha pequeníssima biblioteca, perdi livros, alguns até de valor afetivo, ao presentear meus amigos acreditando que tal volume teria mais utilidade para aquela pessoa naquele momento do que para mim.
Ou seja, se existem os acumuladores compulsivos - pessoas que entopem suas casas com objetos de que não precisam, como jornais velhos e lixo, podendo, inclusive, comprometer a saúde – tornando-se participantes de um reality show de um canal de TV a cabo – eu sou uma “livradora” compulsiva de coisas materiais.
No entanto, quando o assunto são os meus sentimentos, fica difícil faxinar as gavetas da minha mente. É difícil - e até doloroso - perder antigas crenças, mesmo aquelas que já não me servem mais ou que me fazem sofrer. Pode parecer doideira, mas estas falsas crenças me servem de âncora neste mundo solitário.
O mesmo acontece em se tratando de pessoas. Percebo que fica cada vez mais difícil me afastar daquelas que são ou foram importantes para mim, independentemente do quanto me fizeram feliz ou triste e do tempo que estiveram presentes em minha vida.
Algumas dessas são importantes e necessárias e gostaria muito que ficassem, no entanto, têm aquelas outras que eu deveria desprendê-las do meu coração, nem que seja para abrir espaço para outras, mas, vá lá entender o porquê, continuo querendo-as por perto.
Talvez eu só precise de uma ajudazinha para fazer esta faxina afetiva. Que tal uma simpatia?
Afastar pessoas indesejáveis
 Pegue um papel branco e escreva o nome dessa pessoa,
dobre o papel ao meio com o lado escrito para fora,
coloque o papel dentro de um copo com metade de vinagre vermelho,
metade água e uma pitada de sal grosso.
Coloque dentro do congelador durante 21 dias.
 Após os 21 dias jogar fora muito longe da sua casa.

domingo, 4 de novembro de 2012

Se nada der certo, viro hippie

  Certa vez, uma empresa fabricante de uma marca nacional de guaraná pegou carona na onda das comemorações de final de ano e usou uma ótima estratégia de marketing ao confeccionar umas camisetas estilizadas com frases que, no meu julgamento, eram bem legais. Uma delas, em especial, me chamou a atenção. Dizia: Se nada der certo, viro hippie.
Provavelmente a frase já existia e eu, sem dúvida, já a tinha ouvido, mas foi só a partir desta época que ela ficou guardada em mim.
E assim, toda vez que estou cansada da vida urbana, estressada com minha louca rotina de trabalho, correria, filas de banco, engarrafamento, salto alto, poluição, calor, falta de gentileza nas ruas (minha e das outras pessoas), competitividade e mau gosto, a frase me vem à cabeça.
Ela também fica martelando na minha cachola toda vez que volto de lugares como Lumiar, Aldeia Velha, Sana ou outro mato qualquer, pois me questiono se a vida que levo é, de fato, aquela que queria viver.
Penso às vezes que ser hippie, não deveria ser um “plano B”, mas sim, fazer a vida “dar certo” de fato.
Sabemos muito bem a concepção corrente de nossa sociedade sobre o que é “dar certo”, e, portanto, não precisamos perder nosso tempo elencando as características de uma pessoa “bem sucedida”.
Contudo, se o Wikipédia me contratasse para criar definições para essas expressões, eu diria que “dar certo” e “indivíduo bem sucedido” é aquela pessoa que consegue desfrutar de uma vida sossegada, com períodos diários de silêncio e ócio criativo. Seria estar em comunhão com a natureza. Deitar na grama em um local público sem sentir vergonha pelo o que os outros irão pensar. É preferir fazer amor a fazer guerra. É alimentar relacionamentos amorosos onde cada pessoa envolvida mantenha sua individualidade, sem que cada um tenha posse sobre o outro.
Uma pessoa “deu certo” quando prefere trocar aquela tal praia badalada por um banho de rio e cachoeira no meio do nada. É ter em mente que encarar uma trilha é um programa perfeito para um dia de férias. É achar que o seu tênis fica mais bonito quando está sujo e esfarrapado de tanto metê-lo na lama. É estar antenada na troca de fases da lua e fazer pedidos inocentes às estrelas cadentes. É ter ternura o suficiente a ponto de emocionar-se com o por do sol. É tentar não colocar os seus próprios interesses acima dos interesses coletivos.
Não que eu seja a pessoa descrita acima, mas tenho que assumir que tenho muitas características de um “riponga”: gosto de produtos artesanais, odeio calcinhas e sutiãs – aliás, se não fosse contra a leia, iria aderir ao naturismo, mas já que preciso me vestir para sair às ruas,  adoro jeans desbotado e rasgado, sandálias havaianas, cabelo meio despenteado, e, se fosse pelo meu gosto, não usaria brincos. Preferia quando as tatuagens e perfurações eram “coisas de marginais”.
Apesar de não ter aderido a algum movimento de contracultura, abomino produções culturais criadas para o consumo de massa; gostaria de viver entre pessoas que mantem laços comunitários; ideologicamente poderia me definir como uma socialista-libertária; e não consigo ficar parada muito tempo num mesmo lugar, pois sou meio nômade.
No entanto, se levássemos em conta a média dos profissionais da minha área de atuação, acredito que posso afirmar que sou uma professora “bem sucedida”. Além disso, tenho que confessar que aprecio muito as benesses da vida burguesa: ambiciono o conforto que um carro particular oferece; gosto de pegar uma sauna seguida de uma piscina; adoro banheiras de hidromassagem e um bom perfume importado. Gosto de barzinhos moderninhos e descolados e tenho um lado consumista bem apurado. Ultimamente, venho ficando cada vez mais vaidosa e, por isso, tenho investido pesado no uso de produtos cosméticos. E, acima de tudo, quero um “homem para chamar de meu”.
Desta maneira, me transformar numa autêntica hippie iria requer de mim uma boa dose de coragem para abrir mão das coisas boas da vida urbana. Queria poder ser hippie com internet e todas as comodidades que a modernidade nos traz. Talvez por isso me transformar em bicho grilo também não dê certo, pois nada vai parecer dar certo enquanto eu, você, nós estivermos querendo tudo, como se isso fosse possível. 

Contribuição de Larissa Quillinan

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

O funil

      Afetivamente, fiquei anos e mais anos estacionada na desconfortável zona de conforto: Um relacionamento longo e afável, porém muito morno; a inevitável dor da separação; o luto; um longo período de putaria; uma fase de romances rápidos e complicados e agora, depois de um período de pupa (repouso), a borboleta saiu do casulo e quer voar alto, muito alto. 
         Para facilitar o meu plano de voo, divulgo o seguinte anúncio:

Então é isso... Não quero nada menos do que a doçura, a devoção e a proteção do vampiro Edward e o arrebatamento apaixonado, dominador e cheio de tesão do Christian de Cinquenta Tons de CinzaAfinal, estou fazendo um investimento emocional e físico altíssimo para me contentar com pouco.
Tá bom, tá bom! Já sou burra velha para ficar fantasiando e acreditando em heróis românticos de livros... Portanto, se a razão me diz que não pode ser daquela maneira, fiz uma pequena lista de critérios modestos que o candidato a morador do meu coração (ai, que brega!) deverá preencher:

Ter idade real (e também cognitiva) de, no mínimo 30 e, no máximo, 45 anos.

Ele já deve ter se encontrado e se estabelecido profissionalmente, devendo, gostar do que faz, sem, contudo, ser viciado em trabalho.

Já ter filhos, o que evitaria dele inventar de querer tê-los comigo.

Já ter saído do ninho dos pais e que seja capaz de bancar seu próximo sustento. Aliás, não aguento mais homem duro. Sendo assim, o candidato deverá estar na mesma faixa renda do que eu, mas, melhor seria se estivesse acima. Cabe ressaltar que o fulano não precisará me amparar financeiramente, contudo, de vez em quando, pagar a conta do restaurante, do motel, do cineminha, das nossas viagens e do barzinho, faz dele um cavalheiro.

Cavalheirismo é um critério importante. Assim como gentileza, cuidado, carinho, sensibilidade, bom humor e devoção como a do Edward Cullen. No entanto, uma alta dose de sacanagem e depravação são critérios inegociáveis. Ai, ai... Christian Grey!

Ah! Sim! O cara tem que gostar de mulher, no caso, eu, é claro!

O cara tem que ter charme e estilo, não precisando ser, necessariamente, bonito. Melhor dizendo, não quero que seja bonitão, não. Gosto de descrição. O que me leva a outro critério:

O homem não pode ser do tipo “o cara”, ou seja, aquele que “chega chegando”, que chama atenção ou que faz de tudo para isso. Prefiro os mais tímidos e sensíveis. Mas...

O cara tem que ter atitude. Odeio homem passivo, que deixa tudo para eu decidir e resolver. Como sou muito impositiva, se o cara for molenga eu “trepo” (no mau sentido) e acabo deixando vir a tona o que há de pior em mim.

Como não terei carro nem tão cedo, o candidato deverá tê-lo, mas não ligo para marcas, modelo e ano.

O meu par tem que gostar de beber, mas a bebida não pode ocupar um lugar de destaque em nossos programas.  Falando nisso, temos que ter sintonia na escolha desses. Mas isso é fácil, pois, exceto pagode, escola de samba, forró, axé, sertanejo, underground, filmes de ação, terror, suspense, comédia pastelão e afins e lugares muvucados de gente sem noção, sou aberta a novas possibilidades.

Deve ser animado para sair de casa a dois ou em grupo, mas não pode ficar irritado por ficar em casa numa sexta-feira à noite vendo um filminho. Ou seja, deverá manter um equilíbrio entre caseiro e festeiro.

Tem que ser bom na cama. Já falei isso, né? Hummm... A repetição é proporcional ao grau de importância.

Acho que é só. 
Meu sobrinho, ao ouvir esta lista, disse que se eu colocasse os homens desta cidade, deste estado, deste país, deste planeta num funil e o espremesse e sacudisse, não cairia um. 
Mas eu sou uma romântica. Prefiro acreditar que ele está por aí, como um "Wally". Um dia a gente se esbarra<!--[if !supportFootnotes]-->[1]<!--[endif]-->.


<!--[if !vml]--><!--[endif]-->
<!--[if !supportFootnotes]-->

<!--[endif]-->
<!--[if !supportFootnotes]-->[1]<!--[endif]--> Inspirado no filme argentino Medianeras que assisti hoje.