Faz tempo que não escrevo.
Aliás,
faz tempo que não faço coisas que me motivem e me inspirem a escrever.
É
isso mesmo, prezado leitor, esta crônica estará carregada de tédio e
melancolia. Se você está baixo astral, fuja!
Quem
acompanha este blog deve lembrar que a autora dele - ou seja, esta que lhe
escreve - foi submetida à cirurgia de gastroplastia, vulgo “redução de
estômago” recentemente. Para ser mais exata, decorreram 37 dias desde a
intervenção cirúrgica.
Posso
dizer - e meus médicos atestam - que minha recuperação é um sucesso, pois quase
não senti os efeitos orgânicos negativos da cirurgia e já eliminei mais de 16
quilos.
No
entanto, uma reação não prevista aconteceu: Estou desanimada. Muito desanimada!
Mais do que isso, tenho andado extremamente sensível, carente, entediada,
irritada, prostrada, intolerante e baixo astral.
Tenho
meus dias bons, mas, na maior parte do tempo, é dessa maneira que me sinto.
Não consigo ler nada de bom. Alugo filmes que não me seduzem a assisti-los, tenho preguiça de sair de casa, não quero voltar ao trabalho. Enfim, do dia 31 de julho para cá, esta foi a minha realidade:
Não consigo ler nada de bom. Alugo filmes que não me seduzem a assisti-los, tenho preguiça de sair de casa, não quero voltar ao trabalho. Enfim, do dia 31 de julho para cá, esta foi a minha realidade:
- 0% de álcool;
- 0% de alimentos engordativos;
- 0% de sexo;
- 0% de coisas interessantes acontecendo;
Noutro dia, reclamando disso
com um amigo, ele me respondeu: "Tá vendo só? Vida de magra é muito sem
graça!". Quando o corrigi dizendo que ainda não estava magra, ele me advertiu: “Ou
seja, vai piorar".
Confesso que me apavorei!
Como
nenhum infortúnio vem sozinho, o meu tédio coincidiu com o da minha sobrinha,
uma adolescente, projeto de gente esquisita, com a qual convivo diariamente.
Nas
últimas semanas, ela tem acordado com aquela “cara de bunda” típica de alguém
que está insatisfeita com a vida.
No
intuito de querer dar cabo de nossa incômoda situação, me pus a pesquisar sobre
o tema e eis que chego a uma interessante reportagem sobre o tédio entre
adolescentes veiculado num programa dominical de TV. Eis um trecho:
Por que os
adolescentes ficam entediados?
Por Suzana Herculano-Houzel[1]
Acontece com todo mundo. Chega um momento da vida em que tudo que a gente gostava de fazer - brincar de bola, de boneca, de carrinho, de pega-pega - deixa de ser interessante.
É o tédio, um dos primeiros sinais do início da
adolescência. Você provavelmente ouviu falar que o tédio, como várias outras
chatices da adolescência, era culpa dos hormônios. Mas não é.
A neurociência hoje tem uma resposta diferente:
o comportamento adolescente é fruto de um cérebro adolescente, que está
passando por uma série de transformações.
Uma das primeiras mudanças acontece bem no meio
do cérebro, no sistema de recompensa. Esse é um conjunto de estruturas que,
quando fazemos algo que dá certo ou que promete resultados muito legais, nos
premia com uma sensação de prazer. Um prazer que tanto serve como recompensa
quanto como motivação.
Brincar de bola, de boneca, correr à toa, jogar
videogames, são ótimas maneiras de ativar o sistema de recompensa das crianças.
Acontece que, ao entrar na adolescência, o sistema de recompensa perde de um
terço à metade de seu tamanho e também da sua sensibilidade.
Isso significa que tudo o que antes dava prazer
agora já não funciona mais tão bem. A boneca, a bola e os carrinhos são
abandonados. Os heróis da infância são esquecidos.
O que ainda funciona? Novidades. Por isso, os
adolescentes precisam tão desesperadamente de novos prazeres: música, esportes,
carinhos, comida, cinema - tudo isso na companhia de amigos, que têm as mesmas
necessidades.
Por mais que o tédio seja chato para os
recém-adolescentes - e para seus pais que acham que a falta de interesse e
preguiça são birra ou rebeldia - esse tédio é natural e tem uma função
importantíssima. É ele que faz com que o jovem abandone a infância, se
interesse pelo mundo adulto e vá buscar sua turma.
Afinal, se a infância não perdesse a graça,
quem iria querer trocar a brincadeira por trabalho?
Ok.
Pelo que o que diz a reportagem, a situação de minha sobrinha é normal e, se
tudo correr bem, passageira. Ótimo para ela! Daqui a pouco ela deixará, de vez,
a infância para trás e adentrará no mundo adulto. Mesmo que se sinta desconfortável,
triste e irritada vez ou outra, ela terá diversos outros interesses que lhe darão
prazer e terá tantas outras recompensas como motivação.
Mas
e eu?
Tudo
bem que eu tenha uma alma adolescente e, em termos de maturidade, tenho que
admitir que sai dessa fase faz bem pouco tempo. Entretanto, eu
sou uma mulher adulta de quase quarenta anos! Que tédio é este que me persegue
há quarenta dias?
Analisando
mais atentamente a reportagem, percebo que ela não versa apenas sobre adolescentes.
Contudo, ela dá algumas pistas para entender a minha atual situação.
Devido à cirurgia, hoje sou como uma adolescente vivendo um período de transição. Afinal, o meu corpo e o meu cérebro estão passando por profundas transformações.
Por
questões orgânicas, mas também por disciplina e um forte desejo de mudanças da
minha parte, já não posso contar com alguns instrumentos de compensação como, por exemplo, a
comida, que me dava prazer ao me entorpecer.
Também
já não posso contar com aquele vinhozinho que me relaxava e me fazia companhia
naquelas solitárias noites de sexta-feira sem programa.
Fora
que, a despeito de minha inabalável libido, não tenho me contentado com aquele
bom e velho sexo casual com os pratinhos[2] de
sempre.
O sistema de compensações de antes já não funcionam agora. E, apesar das perspectivas para o futuro serem promissoras - parafraseando Cazuza - o meu futuro é duvidoso. Afinal, não sou mais aquela Bia gordinha, engraçada, disponível, de baixa autoestima de antes, mas ainda não sou a Bia magra, saudável e bem resolvida que serei.
Você
já deve ter pensado na solução para este impasse. Basta que eu crie novos
sistemas de compensação e prazer.
Claro!
É isso mesmo! Fácil, não é mesmo?
Não,
não é...
Abandonar, abrir mão, deixar para trás seja lá o que for não é uma coisa fácil, ainda mais em se tratando de antigos hábitos que davam prazer.
Mas
é isso... Não tem jeito... Já dizia aquele o ditado típico de gordo: “Não é possível
fazer uma deliciosa omelete (isso eu posso comer!) sem quebrar alguns ovos”.
Mudanças
no meu comportamento são necessárias... Ops, isso me lembrou uma música e é com ela, sem mais delongas, que fecho este texto:
Solidão me deixe forte
Talvez resolva meus problemas
[1]
http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/1,,MUL872875-15607,00.html
[2] Sobre o
tema, leia a crônica intitulada “A Teoria dos Pratinhos” em: http://www.biamaianeves.blogspot.com.br/2012/01/teoria-dos-pratinhos.html
Gostei, a aceitação é o 1° passo para a melhora, quando nos reconhecemos fica um pouco mais fácil de se resolver, ainda não operei mas sei e imagino o quando isso mexe com a cabeça da pessoa, meu esposo operou, e muitas das coisas que você relatou acontecia com ele, Tédio com T maiúsculo mesmo, ele ficava insuportável, no inicio eu deixei pois pensei isso é reflexo das mudanças no corpo dele, ele nunca se sentiu magro, nem ao menos perdeu peso tão rápido assim e com o tempo e com jeitinho fui falando isso pra ele pois ele não via o que fazia.
ResponderExcluirMas não se desespere é uma questão de tempo e adaptação com as mudanças do corpo, com o tempo tudo vai melhorando, o vinho será liberado, o sexo será mais gostoso, e vai deixar der ser casual, e vai levar uma vida mais saudavel! Mas adoreiii sua cronica! Parabéns
Adorei o texto Bia, e te confessar estou numa onda de tédio também.
ResponderExcluirMas o meu tédio tem motivo: greve dos professores.
Graças à Deus ela acabou, mas minhas aulas só voltam no final de outubro.
Estou simplesmente sem ter o que fazer, afinal todas aquelas horas me matando de estudar estão sobrando.
Com isso, cheguei a conclusão de que o tédio nada mais é do que a falta de algo que você se costumou fazer, mesmo não sendo muito legal, como no meu caso que era estudar hahaha
Mas é isso, daqui a pouco passa!
Beijinhos
Vc é Fodástica!! Vou precisar ler esse texto mais vezes, por muito e muito tempo... rsss
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