quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Feliz Aniversário! Envelheço na cidade

         Meu aniversário começou às 0h do dia 28 de fevereiro.

        Conectados a um chat de uma rede social da internet, três amigos muito fofos e atenciosos acompanharam pacientemente a minha contagem regressiva. Quando o relógio deu meia noite, eu mesma publiquei o fato de estar completando 38 anos. Seguiu-se, então, uma chuva branda de comentários e mensagens com felicitações. Tirando uma música dedicada a mim - obrigada, Renata! – os cumprimentos foram aqueles de sempre: “Felicidades”, “Saúde”, “Continue assim”, “Sucesso”, etc, etc, etc. 

Quando os comentários foram rareando, resolvi me preparar para deitar. Estava sonolenta após duas taças de uma garrafa de vinho que havia comprado mais cedo para me presentear. Sobre a minha recém-descoberta do prazer de beber um bom vinho, segue-se algumas poucas considerações.

Assim como a maioria das mulheres, sempre gostei de bebidas doces. A caipirinha é o meu drink preferido. Cerveja até bebo, mas, mais por hábito do que por prazer. De vinho eu gostava daqueles bem vagabundos, docinhos, que “pegavam rápido” e me deixavam com dor de cabeça no dia seguinte. Pensando bem agora no assunto, reconheço que tenho bebido bastante nos últimos tempos. Calma! Nada que dê para gerar preocupações. Meus vícios são outros...

Pois então, já havia arriscado a beber vinho de verdade ao tentar acompanhar meus irmãos e irmãs e alguns amigos, mas, qual o quê? Achava amargo, seco, sem graça! Foi só depois de uma temporada romântica no inverno de Friburgo que comecei, de fato, a apreciar. Agora, vira e mexe, no frio ou no calor, sozinha ou acompanhada, basta estar inspirada, ou querer me presentear e relaxar, que me meto a degustar um bom vinho. Se bem que tenho uma amiga que diz que mulher solteira não deve ficar bebendo vinho sozinha em casa, pois acaba ficando mais carente do que costuma ser. Ela tem certa razão. Meninas, se forem beber sozinhas, não se conectem a internet e, por favor, desliguem os celulares. A gente acaba ficando muito romântica e, consequentemente, fazendo merda.

Contudo, esta crônica é sobre o meu aniversário, não sobre vinho. Voltemos.

Fui acordada com um torpedo do meu ex-marido me felicitando. Levantei antes do que queria e mal humorada com o calor. Espiei pela janela e constatei que o céu estava nublado e o dia muito abafado. Olhei-me no espelho e percebi que minha aparência não era das melhores. Pensei: “Caramba! Estou mesmo envelhecida!” Para melhorar a autoestima, desci para o salão, mas a cabeleira já tinha outra cliente - nem no meu aniversário tenho prioridade? Soube por ela que era preciso tomar cuidado com o sol, pois, segundo o que tinha ouvido dizer na televisão, o nível de radiação estava mais alto do que o normal. Ótimo receber esta informação quando se está fazendo trinta e oito anos! Protetor solar! Muito protetor solar! Tenho que começar a usá-lo diariamente. Hummm... Lembrei-me daquele vídeo “Filtro solar”. Vale a pena rever, combina bem com esta situação de aniversário.

Ainda no salão, recebi a ligação da minha querida amiga que está na França. Fiquei contentíssima, mas angustiada ao pensar no valor que ela pagaria por uma ligação internacional para celular. Talvez seja por isso, não sei, mas me senti tão distante dela! “Óbvio! Estão em continente diferentes”, você pode pensar. Mas era aquela outra distância, sabe? Tínhamos o hábito de nos ligar por coisas triviais. Mas assim... Tão distantes uma da outra isso parece um luxo desnecessário. Saudade de você, amiga!

De volta a casa, mais ligações e torpedos.

No entanto, nenhuma grande surpresa. Nenhuma cesta de café da manhã. Nenhuma foto em colunas sociais. Nenhum buquê de flores de um admirador, nenhuma faixa ou outdoor com meu nome na rua.  Será que as pessoas fazem mesmo isso por alguém ou é o próprio aniversariante, que, numa atitude desesperada de ser sentir lembrado e feliz, envia para si mesmo? Talvez eu tente isso no ano que vem.


Pus-me a refletir sobre dias de aniversário e foram estes pensamentos - alguns um tanto sombrios - que me motivaram a começar a escrever esta crônica.

Dei-me conta - ou pelo menos só agora internalizei - que o aniversário é para quem está diretamente ligado a ele, ou seja, o próprio aniversariante.

O calor ou a chuva não serão evitados porque é o seu dia. O comércio frenético, o trânsito ruim, o mercado financeiro, a exploração do homem sobre o homem, a péssima administração do atual prefeito da sua cidade, o aumento do preço da passagem das barcas, e tantas outras coisas do cotidiano serão uma realidade a despeito do seu aniversário. Você provavelmente terá que ir trabalhar. Ninguém te dará o lugar a frente, caso precise enfrentar uma fila de banco. O trocador do ônibus - ou o taxista, se você se der o luxo de usá-lo neste dia - te cobrarão pelo transporte. Talvez você receba um desconto daquela livraria que você é cliente, mas terá que pagar integralmente o valor do ingresso do cinema. Aquela sua irmã que faz doces maravilhosos não poderá preparar sua torta porque está trabalhando no dia. Sua mãe idosa poderá se sentir mal e você ficará preocupada. A tal consulta médica que mudará sua vida ao melhorar sua saúde, será marcada justamente no dia do seu aniversário.

Se você resolver marcar alguma comemoração - seja ela qual for - seus convidados, antes de qualquer coisa, pensarão no transtorno que será ter que se organizarem para comparecer. Certo é que, se eles conseguirem se fazer presentes, ficarão contagiados pela sua alegria ao recebe-los. Mas, se você resolver cometer a insanidade de comemorar no próprio dia, sendo este no meio da semana, misericórdia! Provavelmente te xingarão. Imagine então um aniversário no final do mês e caindo numa 3ª feira pós-carnaval! Mas vamos lá, façam este sacrífico por mim.

Como estava com pouca grana, resolvi comemorar num bar onde cada convidado pagaria sua conta. O bar foi sugerido por uma prima e não podia ser mais a minha cara (é muito bom quando as pessoas te conhecem bem). Não contei, mas acho que compararecem cerca de 40 pessoas. Lotou o bar. Nada mal, dada as circunstâncias da data. Uma outra prima brincou dizendo que se orgulhava de mim por ser tão popular.

Popular eu? Nunca me vi assim. Na verdade sempre me pergunto porque as pessoas gostam de mim. Sou franca demais, implicante demais, incoveniente na maioria das vezes. Será que não percebem todos os meus defeitos de caráter? Inclusive a futilidade que, segundo um amigo antigo, tenho adquirido nos últimos tempos. Talvez ele tenha razão. Tão politizada que era e até agora ainda não me dei o trabalho de escrever sobre algo realmente sério. Lembrei-me daquela frase: “Não confie em ninguém com mais de trinta anos”. Ao me aproximar dos 40 anos, estou capitulando.

Apesar de todos esses defeitos, hoje me senti querida. Recebi abraços, beijos, lembranças e mensagens de familiares e amigos. Talvez amizade seja mesmo aquele velho clichê que afirma que seus verdadeiros amigos são aqueles que conhecem seus defeitos e, mesmo assim, gostam de você.

No entanto, senti falta do contato de algumas pessoas. Senti falta do telefonema do meu sobrinho Rodolfo, do Zé, da Rafa, do Bruno, do Conrado, da Milla, da tia Dodora, do meu primo Maurício e da minha cunhada Sandra. Mas agradeço se ao menos eles tiverem pensado em mim hoje. Se não hoje, agradeço pelos dias que pensaram em mim com carinho.

E por falar em agradecimento, dia de aniversário é um bom dia para isso e assim,  segue minha lista: agradeço a Deus, a Deusa, Luz, Javé, Poder Superior, Olorum, Mãe Natureza, ou seja lá que nome deem, pelas oportunidades que me foram dadas na vida, inclusive a de ganhar os novos e já tão queridos amigos (isso inclui meus amigos-alunos adolescentes) e manter aqueles antigos como você, amiga querida - que me atura interruptamente por mais de vinte anos. Tem também a galerinha que estudei na escola primária que, apesar dos mais de vinte anos de separação, hoje formamos um grupo coeso e muito animado. Como esquecer dos meus primos e primas? Mais do que familiares, são parceiros da vida, inspiração e leitores ávidos deste modesto blog. Por fim, agradeço à minha grande família, especialmente aos meus pais e irmãos, porto seguro de todas as horas. 

Afinal, meu aniversário acabou. Estou em casa agora. Ganhei poucos presentes, não ouvi uma declaração de amor, mas recebi flores de uma amiga. Vou dormir sozinha daqui a pouco.  

Tenho que concluir esta crônica, mas fiquei olhando para a tela por muitos minutos e não encontrei nada de muito impactante para fechar. Portanto, por falta de palavras minhas, uso as do Frejat para felicitar a todos os aniversariantes esperançosos como eu:




Niterói, 28 de fevereiro de 2012.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Mulher estranha esta!

         Quem é esta pessoa que tenho convivido nestes últimos anos? Uma mulher estranha que invadiu a minha casa, o meu espaço e tem se instalado de maneira irresistível na minha vida.


Chegou tímida naquela tarde de outubro de alguns anos atrás quando, após um consenso, “ele” saiu pela porta para não voltar mais. No início permaneceu calada, respeitando minha dor, mas aos poucos foi se apresentando.


Ajudou-me a me desfazer de medos bobos como o medo do escuro, de fantasma, de bichos e, principalmente, o medo de ficar sozinha. Aliás, fez-me ver que essa condição não é tão mal assim e que eu sou uma boa companhia, inclusive para mim mesma. 


Ela me levou a tomar atitudes que já deveriam ter sido tomadas há muito tempo, como o de gostar e cuidar bem de mim. Levou-me a acreditar que algumas visitas ao terapeuta talvez me ajudassem. E não é que ela estava certa?


Mexeu com minha a minha frágil auto-estima. Não sem grande esforço fez mirar-me no espelho para me mostrar o quanto sou bonita e que um corpo com volume tem sua sensualidade. Comecei a usar camisetas sem mangas, vestidos, cores, decotes, salto alto e maquiagem.


Fez-me entender que não adiantava ficar reclamando do calor, do frio, do carro que não tenho, do meu trabalho, do meu corpo, da minha vida. Disse-me que ficar repetindo ao mundo o quanto era infeliz, mal remunerada e injustiçada não ajudaria absolutamente nada, só me tornaria uma pessoa muito chata. Mais produtivo seria começar a fazer escolhas mais acertadas.


Exigiu-me que abandonasse a adolescente que eu teimava em ser e assim, tateando, porém, sem medo, adentrei, finalmente, na vida adulta. Maravilhei-me com uma independência e liberdade nunca antes experimentadas. Parei de sentir aquela estranha sensação de que minha vida ainda ia começar em algum momento. Comecei a viver com entusiasmo.


Mostrou-me que os sonhos de outra época eram bonitos, mas, como sonhos que eram deveriam ficar no seu devido lugar. Segura, positiva e animada disse-me que eu deveria ter projetos concretos e realizáveis e me ensinou a estabelecer prioridades.
         
      Quanto aos homens, me disse para ser compreensiva e tolerante, mas que eu me respeitasse acima de tudo e que nunca mais me contentasse com migalhas. No entanto, me fez entender que deveria aceitar de bom grado e sem culpa alguns momentos de felicidade.

Preveniu-me que, vez por outra, receberei visitas indesejáveis como a tristeza, a insegurança, a carência, o cansaço e o desânimo. Disse-me que todo ser humano tem seus altos e baixos, e que - vá lá entender o porquê - estas visitas fazem-nos crescer. Me prescreveu uma receitinha para não deixá-los instalar-se: Dê atenção a eles apenas por um dia, no máximo dois. Durante este período, chore um pouco, coma chocolate, presentei-se com um vinho - mas nada de beber em copo comum, sirva-se numa taça -, veja uma comédia romântica, ligue para um amigo ou amiga. Durma e acordará com uma nova perspectiva.

Mulher estranha esta! 
Onde você estava nos últimos trinta e oito anos? 
Como assim “dentro de mim”? 
Como foi possível nunca ter te encontrado antes? 
De qualquer maneira, agradeço por ter despertado e se revelado no momento certo.


Para minha irmã Claudia, com amor.