Meu aniversário começou às 0h do dia
28 de fevereiro.
Conectados a um chat de
uma rede social da internet, três amigos muito fofos e atenciosos acompanharam
pacientemente a minha contagem regressiva. Quando o relógio deu meia noite, eu
mesma publiquei o fato de estar completando 38 anos. Seguiu-se, então, uma
chuva branda de comentários e mensagens com felicitações. Tirando uma música
dedicada a mim - obrigada, Renata! – os cumprimentos foram aqueles de sempre:
“Felicidades”, “Saúde”, “Continue assim”, “Sucesso”, etc, etc, etc.
Quando os comentários
foram rareando, resolvi me preparar para deitar. Estava sonolenta após duas
taças de uma garrafa de vinho que havia comprado mais cedo para me presentear. Sobre a minha recém-descoberta
do prazer de beber um bom vinho, segue-se algumas poucas considerações.
Assim como a maioria das
mulheres, sempre gostei de bebidas doces. A caipirinha é o meu drink preferido.
Cerveja até bebo, mas, mais por hábito do que por prazer. De vinho eu gostava
daqueles bem vagabundos, docinhos, que “pegavam rápido” e me deixavam com dor
de cabeça no dia seguinte. Pensando bem agora no assunto, reconheço que tenho bebido
bastante nos últimos tempos. Calma! Nada que dê para gerar preocupações. Meus
vícios são outros...
Pois então, já havia arriscado
a beber vinho de verdade ao tentar acompanhar meus irmãos e irmãs e alguns
amigos, mas, qual o quê? Achava amargo, seco, sem graça! Foi só depois de uma
temporada romântica no inverno de Friburgo que comecei, de fato, a apreciar.
Agora, vira e mexe, no frio ou no calor, sozinha ou acompanhada, basta estar inspirada,
ou querer me presentear e relaxar, que me meto a degustar um bom vinho. Se bem
que tenho uma amiga que diz que mulher solteira não deve ficar bebendo vinho
sozinha em casa, pois acaba ficando mais carente do que costuma ser. Ela tem
certa razão. Meninas, se forem beber sozinhas, não se conectem a internet e,
por favor, desliguem os celulares. A gente acaba ficando muito romântica e,
consequentemente, fazendo merda.
Contudo, esta crônica é
sobre o meu aniversário, não sobre vinho. Voltemos.
Fui acordada com um
torpedo do meu ex-marido me felicitando. Levantei antes do que queria e mal humorada
com o calor. Espiei pela janela e constatei que o céu estava nublado e o dia
muito abafado. Olhei-me no espelho e percebi que minha aparência não era das
melhores. Pensei: “Caramba! Estou mesmo envelhecida!” Para melhorar a autoestima,
desci para o salão, mas a cabeleira já tinha outra cliente - nem no meu
aniversário tenho prioridade? Soube por ela que era preciso tomar cuidado com o
sol, pois, segundo o que tinha ouvido dizer na televisão, o nível de radiação
estava mais alto do que o normal. Ótimo receber esta informação quando se está
fazendo trinta e oito anos! Protetor solar! Muito protetor solar! Tenho que
começar a usá-lo diariamente. Hummm... Lembrei-me daquele vídeo “Filtro solar”.
Vale a pena rever, combina bem com esta situação de aniversário.
Ainda no salão, recebi a
ligação da minha querida amiga que está na França. Fiquei contentíssima, mas
angustiada ao pensar no valor que ela pagaria por uma ligação internacional
para celular. Talvez seja por isso, não sei, mas me senti tão distante dela!
“Óbvio! Estão em continente diferentes”, você pode pensar. Mas era aquela outra
distância, sabe? Tínhamos o hábito de nos ligar por coisas triviais. Mas assim...
Tão distantes uma da outra isso parece um luxo desnecessário. Saudade de você,
amiga!
De volta a casa, mais
ligações e torpedos.
No entanto, nenhuma
grande surpresa. Nenhuma cesta de café da manhã. Nenhuma foto em colunas
sociais. Nenhum buquê de flores de um admirador, nenhuma faixa ou outdoor com meu nome na
rua. Será que as pessoas fazem mesmo
isso por alguém ou é o próprio aniversariante, que, numa atitude desesperada de
ser sentir lembrado e feliz, envia para si mesmo? Talvez eu tente isso no ano
que vem.
Pus-me a refletir sobre
dias de aniversário e foram estes pensamentos - alguns um tanto sombrios - que
me motivaram a começar a escrever esta crônica.
Dei-me conta - ou pelo
menos só agora internalizei - que o aniversário é para quem está diretamente
ligado a ele, ou seja, o próprio aniversariante.
O calor ou a chuva não
serão evitados porque é o seu dia. O comércio frenético, o trânsito ruim, o
mercado financeiro, a exploração do homem sobre o homem, a péssima administração
do atual prefeito da sua cidade, o aumento do preço da passagem das barcas, e tantas outras coisas do cotidiano serão uma realidade a despeito do seu aniversário. Você provavelmente terá
que ir trabalhar. Ninguém te dará o lugar a frente, caso precise enfrentar uma
fila de banco. O trocador do ônibus - ou o taxista, se você se der o luxo de
usá-lo neste dia - te cobrarão pelo transporte. Talvez você receba um desconto
daquela livraria que você é cliente, mas terá que pagar integralmente o valor
do ingresso do cinema. Aquela sua irmã que faz doces maravilhosos não poderá
preparar sua torta porque está trabalhando no dia. Sua mãe idosa poderá se
sentir mal e você ficará preocupada. A tal consulta médica que mudará sua vida
ao melhorar sua saúde, será marcada justamente no dia do seu aniversário.
Se você resolver marcar
alguma comemoração - seja ela qual for - seus convidados, antes de qualquer
coisa, pensarão no transtorno que será ter que se organizarem para comparecer. Certo
é que, se eles conseguirem se fazer presentes, ficarão contagiados pela sua
alegria ao recebe-los. Mas, se você resolver cometer a insanidade de comemorar
no próprio dia, sendo este no meio da semana, misericórdia! Provavelmente te
xingarão. Imagine então um aniversário no final do mês e caindo numa 3ª feira pós-carnaval!
Mas vamos lá, façam este sacrífico por mim.
Como estava com pouca grana, resolvi comemorar num bar onde cada convidado
pagaria sua conta. O bar foi sugerido por uma prima e não podia ser mais a
minha cara (é muito bom quando as pessoas te conhecem bem). Não contei, mas acho que compararecem cerca de 40 pessoas. Lotou o
bar. Nada mal, dada as circunstâncias da data. Uma outra prima brincou dizendo
que se orgulhava de mim por ser tão popular.
Popular eu? Nunca me vi assim. Na verdade sempre me pergunto porque as
pessoas gostam de mim. Sou franca demais, implicante demais, incoveniente na
maioria das vezes. Será que não percebem todos os meus defeitos de caráter?
Inclusive a futilidade que, segundo um amigo antigo, tenho adquirido nos
últimos tempos. Talvez ele tenha razão. Tão politizada que era e até agora ainda
não me dei o trabalho de escrever sobre algo realmente sério. Lembrei-me
daquela frase: “Não confie em ninguém com mais de trinta anos”. Ao me aproximar dos 40
anos, estou capitulando.
Apesar de todos esses defeitos, hoje me senti querida. Recebi
abraços, beijos, lembranças e mensagens de familiares e amigos. Talvez amizade
seja mesmo aquele velho clichê que afirma que seus verdadeiros amigos são
aqueles que conhecem seus defeitos e, mesmo assim, gostam de você.
No entanto, senti falta do contato de algumas pessoas. Senti
falta do telefonema do meu sobrinho Rodolfo, do Zé, da Rafa, do Bruno, do Conrado, da
Milla, da tia Dodora, do meu primo Maurício e da minha cunhada Sandra. Mas agradeço se ao menos eles tiverem pensado
em mim hoje. Se não hoje, agradeço pelos dias que pensaram em mim com carinho.
E por falar em agradecimento, dia de aniversário é um bom dia para isso e assim, segue minha lista: agradeço a Deus, a Deusa, Luz, Javé, Poder
Superior, Olorum, Mãe Natureza, ou seja lá que
nome deem, pelas oportunidades que me foram dadas na vida, inclusive a de ganhar os novos e já tão queridos amigos (isso inclui meus amigos-alunos adolescentes) e manter aqueles antigos como você, amiga querida - que me atura interruptamente por mais de vinte anos. Tem também a galerinha que estudei na escola primária que, apesar dos mais de vinte anos de separação, hoje formamos um grupo coeso e muito animado. Como esquecer dos meus primos e primas? Mais do que familiares, são parceiros da vida, inspiração e leitores ávidos deste modesto blog. Por fim, agradeço à minha grande família, especialmente aos meus pais e irmãos, porto seguro de todas as
horas.
Afinal, meu aniversário acabou. Estou em casa agora. Ganhei
poucos presentes, não ouvi uma declaração de amor, mas recebi flores de uma
amiga. Vou dormir sozinha daqui a pouco.
Tenho que concluir esta crônica, mas fiquei olhando para a tela por muitos
minutos e não encontrei nada de muito impactante para fechar. Portanto, por
falta de palavras minhas, uso as do Frejat para felicitar a todos os
aniversariantes esperançosos como eu:
Niterói,
28 de fevereiro de 2012.