domingo, 25 de março de 2012

O que eu gostaria de escrever


Gostaria de escrever a respeito da situação amarga que o cara mais doce que já conheci está vivendo. Este assunto provavelmente se desdobraria e me faria escrever sobre as reflexões que tenho feito ultimamente sobre ou uso de maconha e afins.
Queria muito escrever uma crítica à curadoria responsável pela exposição da Tarsila do Amaral no CCBB. No entanto, basta um único adjetivo para traduzir todo o meu descontentamento: Decepcionante!
Gostaria de escrever sobre a deliciosa peça que assisti no domingo passado e que na qual me senti muito mais do que uma mera expectadora de teatro, mas sim, uma participante animada de uma festa descolada.




Poderia discorrer sobre a viagem no tempo que faço toda vez que dou aulas numa tradicional escola no Centro do Rio de Janeiro, aliás, gostaria de escrever sobre o próprio Centro do Rio e seu charme caótico.
Queria escrever sobre as propriedades curativas de um banho de espuma numa banheira de hidromassagem.
Deveria – e ainda vou fazer isso um dia - escrever sobre o meu querido (e complexo) pai que faz aniversário amanhã.
Gostaria de escrever sobre a saudade que tenho sentido da minha amiga que está longe e da inveja que inevitavelmente venho cultivando de outras amigas que estão indo visita-la daqui a alguns dias.
Queria ter vontade de escrever sobre questões políticas, econômicas e sociais. Por exemplo, gostaria de escrever uma crônica sobre a recente e, talvez inédita, luta pela aquisição dos direitos civis no Brasil por parte de alguns grupos.
Gostaria de atender ao pedido de uma amiga e transformar em crônica a monografia que escrevi sobre mulheres que fizeram a opção pela não-maternidade.
Poderia preencher linhas e mais linhas registrando a minha total falta de paciência para paquerar ultimamente, mas gostaria de estar apaixonada para poder escrever sobre o amor.

Desejaria que a lua, o sol, a chuva, o fim do verão e a chegada do outono me inspirassem a escrever sobre os ciclos da vida.
No entanto, nada tem me inspirado. E não estou dizendo que me falta inspiração apenas para escrever, não.  A sensação que tenho é que nas últimas semanas estou sem inspiração para a vida.
Comecei o ano tão feliz, tão positiva, tão bem disposta e agora este desânimo vem bater a minha porta.
No entanto, conheço a origem desse abatimento. Tenho sentindo na minha própria pele a aplicação do conceito de alienação do velho Marx.
Tenho a sensação de que algo ou alguém se apropriou dos instrumentos, das ferramentas do meu trabalho. Alguém privatizou o tempo!
         Nas últimas semanas venho me sentindo exausta por estar trabalhando enlouquecidamente que mal tenho tempo para pensar sobre o verdadeiro sentido do meu trabalho.Por pura falta de tempo, tenho trabalhado mecanicamente e de maneira repetitiva.


É um paradoxo! Sou professora e minha profissão exige de mim justamente isso, TEMPO. Não um tempo qualquer, mas um tempo sob o meu controle. Tempo para pensar, planejar, elaborar, estudar.
Mas hoje é domingo! Consciente da exploração a qual sou submetida, fiz minha pequena revolução. Como uma operária do saber, joguei tudo para o alto e dediquei o tempo que não tenho ao ócio criativo: escrevi esta crônica, criei um prato bonito na cozinha e agora vou apreciar a arte, fruto do trabalho de outro “operário”, o Modigliani.
Para Edelma, com carinho






4 comentários:

  1. Então, tem um roteiro e tanto para as escritas no blog... Um pouco pessimista no meio, mas adorei o final "Tô ligando o F". rs
    beijos
    Fabricia

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  2. Até a simples falta de inspiração faz você escrever e nos levar à reflexão a respeito desta inércia na qual às vezes nos metemos.
    Muito bom o texto.
    Ah! antes que me esqueça, dê um beijo um grande abraço e feliz aniversário para este meu querido (e complexo) tio!
    Beijim,
    Marta.

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  3. Mais uma vez você me faz refletir sobre minha "eterna falta de tempo"! Como já te disse uma vez, sou escrava de "minhas responsabilidades", algumas impostas por outros, outras impostas por mim mesma. Acho que essas são as que mais me angustiam e revoltam. Por que não me rebelar comigo mesma?
    Quem sabe algum dia eu consiga!
    Bjs, sua querida irmã,

    Claudia.

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  4. sua aparente falta de inspiração foi fértil para que escrevesse mais uma crônica inteligente e inspiradora!
    beijos

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