quinta-feira, 15 de março de 2012

A vida alheia me interessa


Já viu alguém com cara de preocupado dizendo “Tenho tanta coisa para resolver!”?
Da minha parte, penso o seguinte: ou a pessoa que diz isso para outra, na verdade, quer se valorizar mostrando que é muito ocupada, ou esta pessoa é muito enrolada e não consegue solucionar de maneira prática as coisas simples do dia a dia.
Para falar a verdade, de uma maneira ou de outra, esta frase sempre me irritou.
Será que só eu que não tenho nada para resolver? Nenhuma burocraciazinha? Nadinha?
Ah... Mas hoje me vi perguntando a mim mesma “Por onde começo?”.
Tive meu dia de pessoa adulta e resolvi várias coisinhas urgentes. Uma delas era recarregar o cartucho de impressora. Coisas de pobre!
Pois bem... Estava eu numa loja de beira de rua esperando o cara fazer o serviço de recarga. Nisso, vejo um homem encostando (quase batendo) sua testa do lado de fora da vidraça que separava a loja da calçada. Era um sujeito com mais ou menos 45 anos, de terno, muito aflito e falava em voz alta ao telefone.
Curiosa e fofoqueira que sou, apurei o ouvido para ouvir o que ele dizia. Algo mais ou menos assim:

Meu amor, de onde você tirou isso?”
“Por que esta desconfiança agora?”
“Péraí, precisamos conversar”. “Calma!”
“Ãh? O que que tem aquela ligação?
“Eu tenho culpa de alguém me ligar às 11h da noite?”
“Querida, já te disse que foi engano”. 
E por aí foi...
      
A telefonia celular tem isso: somos contatados em horas impróprias, recebemos ligações e torpedos por engano, nos tornamos vulneráveis e muitas vezes perdemos a nossa privacidade.
De início me solidarizei com o pobre homem desesperado. Achei que ele estava sendo sincero. Mas depois me lembrei de uma situação exatamente igual vivida por mim há alguns anos atrás. Confesso que tive vontade de me meter na conversa e dizer para o tal "amor" que ela tinha sim, motivos para desconfianças. Explico-me:
Na época meu marido, hoje ex, recebeu uma ligação num sábado à noite. Estávamos aconchegados e aparentemente felizes em casa. Ele deu uma explicação qualquer e me dei por satisfeita. Hoje percebo que queria acreditar nele. Gostava do nosso relacionamento e não estava disposta a fazer grandes mudanças na minha vida. Se eu quisesse tomar uma atitude, teria que procurar razões para isso - o que, sinceramente, não queria na época.
Mas, a partir deste episódio a desconfiança foi sutilmente plantada em mim. Se fosse uma situação isolada e nada mais tivesse acontecido, o tal telefonema teria caído no esquecimento. Mas não foi o que aconteceu. Seguiram-se meses ruins entre nós e o nosso relacionamento foi rolando ladeira abaixo. Até que, quase um ano depois, desta vez num domingo, a mesma coisa aconteceu. Eu já não estava mais feliz e resolvi dar asas às minha desconfiança. Procurei... Procurei... Até que achei o que ninguém quer achar. No entanto, desta vez estava pronta e queria tomar uma atitude. Foi o que fiz.
Hoje estou eu aqui, uma mulher solteira que não está disposta a procurar muitas coisas. No entanto, é preciso deixar claro que estou também por aí e, caso tenha a sorte de ser encontrada por “um amor tranquilo com sabor de fruta mordida”, como já disse Cazuza, ficarei mais feliz do que já estou.
Aos casais quero acrescentar o seguinte: estou afirmando que toda ligação estranha é motivo de desconfiança? Não! Óbvio que não! Como romântica que sou, continuo acreditando no amor e  é por isso que desejo que quem o vive hoje, tenha pela frente anos e anos de cumplicidade, confiança e amor tranquilo.
 Me processe, ECAD!
Niterói, 14 de março de 2012.


2 comentários:

  1. A vida nos prega cada peça, né?
    Gostei do texto, apesar da parte em que vc descreve como o seu relacionamento acabou-se, mas em contra partida vc ganhou vida, muitos anos de vida bem vivida ;)

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  2. Engraçado Bia, como nossas histórias se parecem! É claro que há nuances em nossos relacionamentos bastante diferentes! Motivo de distanciamento e posterior separação de meu ex foram outros, mas este seu relato também contou muito. O melhor é que eu preferia que me contasse logo, mas.................... o dito cujo não teve coragem, né?! São um tanto covardes para assumir, né?!

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