Hoje, 12 de junho, comemora-se o dia dos
namorados no Brasil, mas é preciso adverti-lo, querido leitor, que esta crônica
não é nada romântica.
Não que eu tenha perdido o lirismo ou que
ache esta data ridícula. Longe disso! Na verdade, tenho que admitir que eu
gostaria muito de ter alguém que me mandasse flores nesta manhã de outono e que
eu tivesse a oportunidade de usar novamente aquele meu maravilhoso aparelho de fondue. Mas nada disso aconteceu. Aquele
que se diz meu “namorado” já tem namorada e, portanto, não terei jantar
romântico e as flores que vi nas mãos dos entregadores, não eram para mim.
Incomodada com a data? Não exatamente.
Aliás, a título de informação, parece que
ela foi criada em São Paulo em 1949 numa tentativa de alavancar o comércio.
Pronto! Eis aqui uma boa desculpa para os
namorados duros (ou pão-duros) que não compraram presentes para seus
respectivos, ou para os solteiros que não querem dar o braço a torcer de que
esta data, na verdade, incomoda sim:
O dia dos namorados é uma data a
serviço do capitalismo e você não é um vendido para entrar neste jogo.
Não convenceu? Pois é... A mim também
não.
Busquei outros argumentos a partir de
músicas de e para solteiros, mas as que achei eram todas tão machistas! E tem
outra coisa... É fácil constatar que, para cada canção ou filme enaltecendo a
solteirice, há outras “trocentas” poesias, letras e películas sobre o amor.
Será que Tom Jobim estava certo ao
afirmar que é impossível ser feliz sozinho?
Poderia responder apenas por mim, mas
sobre isso eu tenho escrito em várias outras postagens anteriores.
No entanto, com o intuito de defender
minha “categoria”, refleti um pouco, perguntei a alguns amigos e fiz uma breve pesquisa na internet para formular uma pequena lista com algumas vantagens
da vida de solteiro(a). Ei-la:
· Liberdade
no planejamento dos finais de semana, feriados e férias e na escolha do filme;
· Escolher
comer pizza no café na manhã, chocolate no almoço e apenas uma fruta ou um leitinho
morno como jantar. Ou qualquer outro cardápio que lhe apetecer;
·
Posse
sobre o controle remoto;
·
Ter
a cama toda só para você;
·
Entrar e sair de casa na hora que
quiser;
·
Mudar os móveis de lugar cada vez
que lhe der na telha;
· Os gastos são apenas com você
mesmo(a) e você não tem que vá querer controlar o SEU dinheiro;
· Mudar
de ideia 153.431.843.741.234 de vezes por dia, sem ninguém para lhe chamar de
louco(a);
·
Dormir em qualquer lugar da casa;
·
Pintar uma parede de cada cor;
·
Deixar calcinhas ou cuecas no
boxe;
·
Não ter a obrigação de estar
sempre depilada, cheirosinha e atraente;
·
Poder dar vazão as suas manias
mais estranhas sem incomodar ninguém;
· Sair de casa e saber que a sua
bagunça ou a arrumação que você fez vai estar exatamente do jeito que você
deixou quando voltar;
·
Não sofrer com ciúmes,
inseguranças, saudades e afins;
· Não sentir-se culpado(a) por não
poder dar atenção ao seu par quando precisar dedicar-se ao trabalho ou ao
estudo;
·
Paquerar e deixar ser paquerado(a)
sem constrangimentos;
·
Estar aberto(a) a conhecer
pessoas diferentes.
·
Respeitar suas vontades;
·
Não ter sogra.
·
Possuir um leque maior de
possibilidades.
·
Sentir-se livre.
Contudo, apesar da solteirice ser uma
escolha individual que não diz respeito a ninguém ou, por outro lado, uma obra
do acaso, independente da vontade do indivíduo, é perceptível que pessoas
solteiras, muitas vezes, sofrem discriminação.
Acredito que há em todas as sociedades
humanas existentes - e na brasileira não
é diferente - uma verdadeira imposição social de se estar acompanhada para ser
aceito em alguns ambientes
Discorda? Provavelmente é porque você tem
um par e sai pouco com solteiros ou você é solteiro e anda pouco com casados ou
acompanhados.
Só para ilustrar, vou partilhar uma
situação que testemunhei.
Recentemente fui a uma festa muito
divertida de um grupo de ex-alunos de uma escola, que estudaram juntos há mais
de vinte anos atrás e que se reencontraram graças às redes sociais.
O grupo vem se reunindo
periodicamente há alguns anos. A partir desses encontros alguns de nós conseguimos
retomar antigos – e fortes – laços de amizade. Outros se "reconheceram" a partir dessa convivência. O grupo
tem uma energia muito boa e eu, particularmente, me sinto maravilhosamente bem na
companhia deles. Comecei a frequentá-lo quando ainda estava casada.
Tudo transcorria na mais perfeita paz
enquanto o grupo era pequeno e todos se conheciam. No entanto, na última festa,
outros membros – também ex-alunos – foram incorporados ao grupo e, como era uma
escola bem grande, a maioria dos recém-chegados não foi reconhecida pelos
membros mais antigos. Além disso, cometiam dois grandes pecados: eram solteiros e
muito animados.
Pronto! Criou-se um mal-estar.
Como sou muito desligada, nada percebi
durante a festa. Só me liguei quando ouvi uma amiga falando em voz alta: “Solteiro não é E.T.!”
A frase era uma resposta ao desabafo de
outra amiga que revelava que algumas pessoas antigas do grupo poderiam estar incomodadas
com a presença de novos (e solteiros) membros.
Ao viver esta situação, comecei a refletir e "caiu a ficha" que, para algumas,
solteiro não pode se divertir entre pessoas casadas. Solteiros não podem ter
amigos de outro sexo, pois sempre terão segundas intenções. Solteiro deve-se
desculpar por existir, mas já que existe, deve conter-se, ser triste.
Comecei a perceber que solteiros
e solteiras são consideradas pessoas de outra qualidade. Qualidade inferior em relação aos
casados, diga-se de passagem.
Já no seio da família, o
solteiro não é levado a sério. Por não ter formado seu próprio clã, não tem
vida própria e, já que não tem responsabilidades, deve estar sempre disponível
para ajudar a todos.
Mas nem tudo está
perdido. Enquanto o debate saudável entre casados e solteiros acontecia na tal festa,
ouvi uma voz amiga (casada) que dizia: “Gente, isso não tem nada ver! Se eu apresentei e coloquei o meu marido no meio dos meus
amigos é por que confio muito nele e não me sinto nem um pouco ameaçada em
relação ao meu casamento”.
Bingo! Ela foi ao ponto da questão: o incômodo de algumas pessoas poderia ser fruto da insegurança. Sendo assim, lanço o desafio aos meus queridos amigos
casados e acompanhados: Resolvam-se antes de sair de casa. Digo mais, não se esqueçam de que na
vida moderna, o estado civil é uma conjuntura. Dias desses, querendo ou não
querendo, você pode estar do lado de cá.
Niterói, Brasil, dia dos namorados de 2012.