segunda-feira, 18 de junho de 2012

Solteiro não é E.T.

Hoje, 12 de junho, comemora-se o dia dos namorados no Brasil, mas é preciso adverti-lo, querido leitor, que esta crônica não é nada romântica.
Não que eu tenha perdido o lirismo ou que ache esta data ridícula. Longe disso! Na verdade, tenho que admitir que eu gostaria muito de ter alguém que me mandasse flores nesta manhã de outono e que eu tivesse a oportunidade de usar novamente aquele meu maravilhoso aparelho de fondue. Mas nada disso aconteceu. Aquele que se diz meu “namorado” já tem namorada e, portanto, não terei jantar romântico e as flores que vi nas mãos dos entregadores, não eram para mim.
Incomodada com a data? Não exatamente.
Aliás, a título de informação, parece que ela foi criada em São Paulo em 1949 numa tentativa de alavancar o comércio.
Pronto! Eis aqui uma boa desculpa para os namorados duros (ou pão-duros) que não compraram presentes para seus respectivos, ou para os solteiros que não querem dar o braço a torcer de que esta data, na verdade, incomoda sim:

O dia dos namorados é uma data a serviço do capitalismo e você não é um vendido para entrar neste jogo.

Não convenceu? Pois é... A mim também não.
Busquei outros argumentos a partir de músicas de e para solteiros, mas as que achei eram todas tão machistas! E tem outra coisa... É fácil constatar que, para cada canção ou filme enaltecendo a solteirice, há outras “trocentas” poesias, letras e películas sobre o amor.
Será que Tom Jobim estava certo ao afirmar que é impossível ser feliz sozinho?
Poderia responder apenas por mim, mas sobre isso eu tenho escrito em várias outras postagens anteriores.
No entanto, com o intuito de defender minha “categoria”, refleti um pouco, perguntei a alguns amigos e fiz uma breve pesquisa na internet para formular uma pequena lista com algumas vantagens da vida de solteiro(a). Ei-la:

   ·   Liberdade no planejamento dos finais de semana, feriados e férias e na escolha do filme;
   ·     Escolher comer pizza no café na manhã, chocolate no almoço e apenas uma fruta ou um leitinho morno como jantar. Ou qualquer outro cardápio que lhe apetecer;
   ·        Posse sobre o controle remoto;
   ·        Ter a cama toda só para você;
   ·        Entrar e sair de casa na hora que quiser;
·        Mudar os móveis de lugar cada vez que lhe der na telha;
·    Os gastos são apenas com você mesmo(a) e você não tem que vá querer controlar o SEU dinheiro;
·    Mudar de ideia 153.431.843.741.234 de vezes por dia, sem ninguém para lhe chamar de louco(a);
·        Dormir em qualquer lugar da casa;
·        Pintar uma parede de cada cor;
·        Deixar calcinhas ou cuecas no boxe;
·        Não ter a obrigação de estar sempre depilada, cheirosinha e atraente;
·        Poder dar vazão as suas manias mais estranhas sem incomodar ninguém;
·     Sair de casa e saber que a sua bagunça ou a arrumação que você fez vai estar exatamente do jeito que você deixou quando voltar;
·        Não sofrer com ciúmes, inseguranças, saudades e afins;
·   Não sentir-se culpado(a) por não poder dar atenção ao seu par quando precisar dedicar-se ao trabalho ou ao estudo;
·        Paquerar e deixar ser paquerado(a) sem constrangimentos;
·        Estar aberto(a) a conhecer pessoas diferentes.
·        Respeitar suas vontades;
·        Não ter sogra.
·        Possuir um leque maior de possibilidades.
·        Sentir-se livre.

Contudo, apesar da solteirice ser uma escolha individual que não diz respeito a ninguém ou, por outro lado, uma obra do acaso, independente da vontade do indivíduo, é perceptível que pessoas solteiras, muitas vezes, sofrem discriminação.
Acredito que há em todas as sociedades humanas existentes -  e na brasileira não é diferente - uma verdadeira imposição social de se estar acompanhada para ser aceito em alguns ambientes
Discorda? Provavelmente é porque você tem um par e sai pouco com solteiros ou você é solteiro e anda pouco com casados ou acompanhados.
Só para ilustrar, vou partilhar uma situação que testemunhei.
Recentemente fui a uma festa muito divertida de um grupo de ex-alunos de uma escola, que estudaram juntos há mais de vinte anos atrás e que se reencontraram graças às redes sociais.
O grupo vem se reunindo periodicamente há alguns anos. A partir desses encontros alguns de nós conseguimos retomar antigos – e fortes – laços de amizade. Outros se "reconheceram" a partir dessa convivência. O grupo tem uma energia muito boa e eu, particularmente, me sinto maravilhosamente bem na companhia deles. Comecei a frequentá-lo quando ainda estava casada.
Tudo transcorria na mais perfeita paz enquanto o grupo era pequeno e todos se conheciam. No entanto, na última festa, outros membros – também ex-alunos – foram incorporados ao grupo e, como era uma escola bem grande, a maioria dos recém-chegados não foi reconhecida pelos membros mais antigos. Além disso, cometiam dois grandes pecados: eram solteiros e muito animados.
Pronto! Criou-se um mal-estar.
Como sou muito desligada, nada percebi durante a festa. Só me liguei quando ouvi uma amiga falando em voz alta: “Solteiro não é E.T.!”
A frase era uma resposta ao desabafo de outra amiga que revelava que algumas pessoas antigas do grupo poderiam estar incomodadas com a presença de novos (e solteiros) membros.  
Ao viver esta situação, comecei a refletir e "caiu a ficha" que, para algumas, solteiro não pode se divertir entre pessoas casadas. Solteiros não podem ter amigos de outro sexo, pois sempre terão segundas intenções. Solteiro deve-se desculpar por existir, mas já que existe, deve conter-se, ser triste.
Comecei a perceber que solteiros e solteiras são consideradas pessoas de outra qualidade. Qualidade inferior em relação aos casados, diga-se de passagem.
Já no seio da família, o solteiro não é levado a sério. Por não ter formado seu próprio clã, não tem vida própria e, já que não tem responsabilidades, deve estar sempre disponível para ajudar a todos.

Mas nem tudo está perdido. Enquanto o debate saudável entre casados e solteiros acontecia na tal festa, ouvi uma voz amiga (casada) que dizia: “Gente, isso não tem nada ver! Se eu apresentei e coloquei o meu marido no meio dos meus amigos é por que confio muito nele e não me sinto nem um pouco ameaçada em relação ao meu casamento”.
Bingo! Ela foi ao ponto da questão: o incômodo de algumas pessoas  poderia ser fruto da insegurança. Sendo assim, lanço o desafio aos meus queridos amigos casados e acompanhados: Resolvam-se antes de sair de casa. Digo mais, não se esqueçam de que na vida moderna, o estado civil é uma conjuntura. Dias desses, querendo ou não querendo, você pode estar do lado de cá.


Niterói, Brasil, dia dos namorados de 2012.

6 comentários:

  1. Muito bom!!! Eu também já presenciei fatos assim.

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  2. É minha cara, a ditadura do viver "ensemble", ou seja, de se viver com o seu par, atravessa oceanos, culturas e épocas. O mal estar existe sobretudo entre os "solteiros", entre aqueles que não tem seus pares, pois muitas vezes realmente se vêem como um ET. É bem o que você falou. Pelo senso comum é visto como alguém pela metade, que não teve sorte, que não deu certo.
    Eu continuo achando que pior do que ser "sozinho" é não amar e quando digo amar, não é só em relação ao amor romântico. É o amor ao próximo, à vida e à si mesmo.

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  3. Querida prima! Entrei para o rol dos descasados há pouco tempo. Ainda não sinto este preconceito, porque também saio muito pouco (rsrsrs). O que me incomoda de verdade é que, depois de tanto tempo com meu par, me sinto desencorajada em ir à caça. Mas, na medida do possível, curto minha "solterice" sozinha mesma; mas há de chegar o dia em que esta mesma "solterice" irá me levar a descobrir e navegar por outros "mares".
    Naqueles prós apontados em seu texto, me enquadro em todos eles.
    Mais uma vez a parabenizo por escrever este texto tão leve, porém intenso e cheio de verdades.

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  4. É impossível ser feliz sozinho e muitas vezes casado.
    Muito bom o texto.

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  5. Oi,Bia
    Como seu texto se desenvolveu!!Parece estar mais confiante neste seu dom!!Gostei muito.Está uma cronista de mão cheia.O barato da Internet é que ela abre esses espaços...Tem que divulgar mais esse blog!!Beijos,
    Adriana

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  6. Sempre me identifico muito com o que escreve e já me senti exatamente assim. Tive "amigas" qe mudaram radicalmente comigo quando me separei. Muito estranho,mas compreensível porque me tornei alguém muito melhor do era quando casada. Me enxergaram com estranheza e medo.

    Patrícia M. de Souza

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