terça-feira, 31 de julho de 2012

Brincadeira séria sobre a morte

            Falem o quiser, mas eu sou fã do facebook! Para ser mais exata, sou viciada!
            Além de ter várias funções, para mim, ele é inspirador.
Sei que alguns amigos acham que me exponho muito e tudo o mais, mas foi num desses excessos cometidos que tirei o material para esta crônica.
Há cerca de uma hora atrás postei a seguinte frase no mural da rede social:

Se eu não acordar depois da cirurgia, quero que todos saibam que fui feliz!
           
Alguns poucos entenderam que eu estava brincando e mais outros perceberam que, na verdade, eu estava querendo chamar a atenção.
Para os que acreditaram digo: Gente! É óbvio que não quero e, se Deus concordar com a minha vontade, não vou morrer. Aliás, vou me submeter ao tratamento cirúrgico de “Gastroplastia com anel e bypass por videolaparoscopia”, vulgo “redução de estômago”, justamente para viver mais e melhor.
Entretanto, como em todas as cirurgias, na minha também há riscos. Qual o susto?
Para ser ainda mais realista, posso morrer até mesmo antes da cirurgia. Na madrugada de hoje, enquanto eu estiver dormindo, a morte pode me levar com um aneurisma cerebral. Caso eu acorde, posso morrer a caminho do hospital, num acidente de carro. Imagine se um avião cair no meio da pista do aterro do Flamengo enquanto eu estiver passando em frente ao Aeroporto Santos Dumont, no caminho de volta de Copacabana à Niterói.
Uma morte mais divertida e glamourosa – e mais a minha cara – teria o seguinte enredo: Eu emagrecerei, isto é certo! Mas ficarei tão linda, tão linda que logo, logo arrumarei um namorado endinheirado. Ele cobrir-me-á de presentes e um desses será um colar caríssimo. Visitaremos o motel mais chique de Niterói e tomaremos um delicioso banho na hidromassagem. Mas, por algum defeito nas engrenagens (as coisas caras também por dar defeito) o tal colar vai enroscar na saída de água e eu posso morrer estrangulada. Este exemplo foi baseado em uma história real que uma amiga viveu, mas graças a Deus e ao colar vagabundo que arrebentou, ela ainda está aí... Vivinha da Silva!
Já até imaginei a cara de terror de alguns leitores ao ler este monte de bobagens. Com o intuito de apavorá-los ainda mais, dei-me o trabalho de pesquisar sobre mortes absurdas e achei algumas, mas estou com preguiça de transcrevê-las e encaixá-las neste texto. Quem quiser conferir, eis o link:
http://pudim.info/wiki/Mortes_estranhas
Mau agouro falar em morte às vésperas de uma cirurgia? Que nada! Eu sei que é clichê, mas quero lembra-los que a única certeza que temos nesta vida é justamente a da nossa morte! Sendo assim, por que não brincar, falar ou escrever sobre ela?
Sem querer ser desrespeitosa com ninguém, gostaria de advertir que a morte vive entre nós. Ela, por mais paradoxal que isso possa parecer, faz parte de nossas vidas.
Zilda Arns, médica sanitarista, fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança que lutava pela erradicação da mortalidade infantil, morreu, aos 73 anos, naquele terrível terremoto que atingiu 7 graus na escala Richter no Haiti, em 2010. Ela estava no país cumprindo agenda de palestras em defesa da vida.
Na sétima volta do Grande Prêmio de San Marino, no autódromo de Ímola, na Itália, Ayrton Senna passa direto pela curva Tamburello a 300 quilômetros por hora e espatifa-se no muro de concreto.
Dias desses foi inaugurada a Praça Memorial 17 de julho como forma de homenagear as 199 vítimas do acidente com o voo TAM JJ3054, que explodiu no aeroporto de Congonhas, em São Paulo,  há cinco anos.
Não tão raro trabalhadores morrem por exaustão em canaviais pelo Brasil afora ou em outras situações desumanas em todo o mundo.
Para citar outros exemplos mais próximos, minha tia Vitória era a segunda mais nova dos treze irmãos do meu pai e faleceu em dezembro passado. Da minha família por parte de mãe, só ela e meu avô chegaram aos setenta anos até agora, o que faz com que minha velhinha celebre a vida a cada dia. Meu tio Hélio morreu aos 36 anos com uma parada cardíaca fulminante deixando uma jovem esposa e seus quatro filhos. Meu primo Duda morreu aos 27 em decorrência de um melanoma – um tipo de câncer de pele -, seis meses após a celebração do seu casamento.
Diante disso tudo, às vésperas de uma situação que vai mudar a minha vida, não consigo parar de pensar sobre a possiblidade da minha morte.  
Dizem que diante da eminência dela, as pessoas costumam assistir a um filme de sua vida. Não cheguei a tal ponto – talvez isso seja um bom sinal - mas consegui fazer um brevíssimo balanço e tenho total segurança para repetir aqui o que escrevi mais cedo no facebook: FUI FELIZ!
Não realizei grandes projetos, não fiz nada de extraordinário. Para falar a verdade sou umas das pessoas mais comuns que conheço. No entanto, sinto-me agraciada por Deus. Como não me sentir assim?
Tenho uma família maravilhosa, fui amada e amei algumas vezes. Não tive filhos, mas escrevi duas monografias e essas vinte e poucas crônicas publicadas no Mulher Solteira Não Procura. Cultivo algumas plantinhas, e plantei tantas outras mini árvores em vários lugares por onde passei. Tenho alguns bons e verdadeiros amigos. Cumpri uma pequena função social ao despertar o senso crítico em alguns alunos que passaram pelas salas onde dei aulas de Sociologia e Filosofia, contudo, fui uma péssima referência (dependendo do ponto de vista) para meus sobrinhos e sobrinhas.
Portanto, queridos e queridas, se a “temida” vier me buscar, não chorem por mim. Antes, façam um show de rock no meu funeral daqui a uns... 40 anos, quem sabe? Porém, por via das dúvidas, adianto-me a oficializar e tornar público o meu testamento[1]::

Para toda a minha numerosa família e para os meus amigos, deixo a felicidade de tê-los ao meu lado e para “você”, em especial, deixo-lhe o meu sorriso que você tanto gosta:




Niterói, 30 de julho de 2012.


[1] De material, deixo:
- Algumas dívidas com instituições financeiras capitalistas que exijo que não sejam pagas; 
- Alguns livros de Sociologia para minhas queridas colaboradoras Beatriz, Dayana e Larissa e outros de Filosofia para o Leo;
- Os romances deverão ser distribuídos entre outros amigos e familiares que chegarem primeiro, assim como  alguns móveis e eletrodomésticos;
- Carlinhos e Rodolfo, fiquem com as poucas garrafas de vinho que me sobraram;
- Thaís e Marcelle, resolvam-se quanto a cama de casal e os meus quadros;
- Daniel, meu afilhado, fique com a pequeníssima quantia em dinheiro que está aplicada;
- Para Izabela e Camila deixo minha pequena fonte;
- Para Juliana, deixo meu gatinho de pano;
- Quanto às poucas roupas que prestam, deixo-as para as gordinhas que ainda não tiveram coragem de tomar uma atitude. 
- Flavio, não se esqueça de que você tem direito a pensão. Providencie e divida entre você e quem mais precisar.

10 comentários:

  1. Me diverti como sempre,mas...assumo que fiquei abalada em pensar na possibilidade de não estar mais presente!! Sei que irá correr tudo bem e já estou ansiosa para ver os resultados!! Ultimamente estou meio babacuda,choro a toa e é com lágrimas que termino de escrever esse depoimento,pois saiba que o carinho e amizade que sinto por vc é tão intenso que parece realmente amizade de infância!! Boa sorte amiga,estarei rezando e torcendo pela sua breve recuperação!!

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  2. Muito engraçado, Bia! Tenho certeza que vc ainda dará muita pinta de gostosa por aí... Mas seu texto me fez pensar que a morte é a nossa maior companheira e melhor amiga. Anda juntinho com a gente, todos os dias, mas todo dia nos deixa de novo pra outro dia, até o último dia...
    Boa sorte, prima! Será um sucesso total!!!!

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  3. Adorei constar no seu testamento, porém gostaria de adiar o recebimento dos títulos =P
    Boa sorte e tudo de bom na sua cirurgia

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  4. Bia, acho que você só deve ler esses comentários depois que acordar zonza da cirurgia, mas vamos lá...
    Essa crônica me fez pensar em algo simples, embora revelador (e cristão)... Se todos nos despedíssemos da vida antes de dormir e, ao despertar, planejássemos o novo dia como se fosse o nosso último, o mundo seria totalmente diferente do que é hoje, concorda? O problema é que, abstraindo a morte dos nossos pensamentos, acabamos cultivando a banalidade e a indiferença...
    Ficarei no aguardo da crônica pós-cirúrgica. Beijão.

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  5. Amiga, só estou pensando em nós duas, loiríssimas e belas pegando sol e tomando uma gelada em pleno sábado em uma praia qualquer aqui do RJ. Adoro você!!!!!Bjs Vivi (PIo XI)

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  6. Rialto!
    Sempre que saio de casa, falo para meus pais e irmãs: se eu morrer, sofram o minímo e divirtam-se o máximo em minha homenagem!
    Nas primeiras vezes, todos se assustavam. Agora já aceitaram a minha perspectiva realista.
    Beijos,
    Lilian

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  7. amigaaaaa, você está vivíssima e quero brindar a vida e a alegria com você de preferência com uma caipiríssima de limão! Mas eu não estou no seu testamento! Fui deserdada é isso?
    As vezes penso sobre uma possivel morte quando estou no avião e apesar de saber que para morrer basta estar vivo, rapidamente reflito: fiz amizades maravilhosas, sempre tive uma capacidade de amar ao próximo e graças a Deus de ser amada, acredito que influenciei positivamente ao menos alguns alunos, conheci alguns países e pessoas maravilhosas, apesar dos percalços vividos...
    No seu caso acredito que nascerá de novo mesmo e quem sabe vai comemorar um novo aniversário! 31 DE JULHO! Seu novo signo será LEÃO!!!KKK Vai se sentir poderosa mesmo! Isso, desce e brilha!!!!

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  8. Biaaa
    adorei o texto!! e ri muito tbb hahahaha principalmente com o testamento!!!
    é obvio que tudo vi dar certo e estou aqui torcendo por vc!!!
    Te adorooo
    beijos
    Amanda Emmerick

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  9. Amiga, só vc pra pensar nisso num momento como esse... Mas é claro que vc ainda tem muito a conquistar e muitos momentos incríveis para viver. Bjos, fique com Deus.
    Sylvia Costa

    PS.: concordo com o comentário do seu amigo Edinho.

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  10. Só você mesma, Bia, para fazer um testamento, falar de morte e me fazer rir ao mesmo tempo! Adorei o texto, como sempre.
    Saudades... Bjs.

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