quinta-feira, 27 de setembro de 2012

O funil

      Afetivamente, fiquei anos e mais anos estacionada na desconfortável zona de conforto: Um relacionamento longo e afável, porém muito morno; a inevitável dor da separação; o luto; um longo período de putaria; uma fase de romances rápidos e complicados e agora, depois de um período de pupa (repouso), a borboleta saiu do casulo e quer voar alto, muito alto. 
         Para facilitar o meu plano de voo, divulgo o seguinte anúncio:

Então é isso... Não quero nada menos do que a doçura, a devoção e a proteção do vampiro Edward e o arrebatamento apaixonado, dominador e cheio de tesão do Christian de Cinquenta Tons de CinzaAfinal, estou fazendo um investimento emocional e físico altíssimo para me contentar com pouco.
Tá bom, tá bom! Já sou burra velha para ficar fantasiando e acreditando em heróis românticos de livros... Portanto, se a razão me diz que não pode ser daquela maneira, fiz uma pequena lista de critérios modestos que o candidato a morador do meu coração (ai, que brega!) deverá preencher:

Ter idade real (e também cognitiva) de, no mínimo 30 e, no máximo, 45 anos.

Ele já deve ter se encontrado e se estabelecido profissionalmente, devendo, gostar do que faz, sem, contudo, ser viciado em trabalho.

Já ter filhos, o que evitaria dele inventar de querer tê-los comigo.

Já ter saído do ninho dos pais e que seja capaz de bancar seu próximo sustento. Aliás, não aguento mais homem duro. Sendo assim, o candidato deverá estar na mesma faixa renda do que eu, mas, melhor seria se estivesse acima. Cabe ressaltar que o fulano não precisará me amparar financeiramente, contudo, de vez em quando, pagar a conta do restaurante, do motel, do cineminha, das nossas viagens e do barzinho, faz dele um cavalheiro.

Cavalheirismo é um critério importante. Assim como gentileza, cuidado, carinho, sensibilidade, bom humor e devoção como a do Edward Cullen. No entanto, uma alta dose de sacanagem e depravação são critérios inegociáveis. Ai, ai... Christian Grey!

Ah! Sim! O cara tem que gostar de mulher, no caso, eu, é claro!

O cara tem que ter charme e estilo, não precisando ser, necessariamente, bonito. Melhor dizendo, não quero que seja bonitão, não. Gosto de descrição. O que me leva a outro critério:

O homem não pode ser do tipo “o cara”, ou seja, aquele que “chega chegando”, que chama atenção ou que faz de tudo para isso. Prefiro os mais tímidos e sensíveis. Mas...

O cara tem que ter atitude. Odeio homem passivo, que deixa tudo para eu decidir e resolver. Como sou muito impositiva, se o cara for molenga eu “trepo” (no mau sentido) e acabo deixando vir a tona o que há de pior em mim.

Como não terei carro nem tão cedo, o candidato deverá tê-lo, mas não ligo para marcas, modelo e ano.

O meu par tem que gostar de beber, mas a bebida não pode ocupar um lugar de destaque em nossos programas.  Falando nisso, temos que ter sintonia na escolha desses. Mas isso é fácil, pois, exceto pagode, escola de samba, forró, axé, sertanejo, underground, filmes de ação, terror, suspense, comédia pastelão e afins e lugares muvucados de gente sem noção, sou aberta a novas possibilidades.

Deve ser animado para sair de casa a dois ou em grupo, mas não pode ficar irritado por ficar em casa numa sexta-feira à noite vendo um filminho. Ou seja, deverá manter um equilíbrio entre caseiro e festeiro.

Tem que ser bom na cama. Já falei isso, né? Hummm... A repetição é proporcional ao grau de importância.

Acho que é só. 
Meu sobrinho, ao ouvir esta lista, disse que se eu colocasse os homens desta cidade, deste estado, deste país, deste planeta num funil e o espremesse e sacudisse, não cairia um. 
Mas eu sou uma romântica. Prefiro acreditar que ele está por aí, como um "Wally". Um dia a gente se esbarra<!--[if !supportFootnotes]-->[1]<!--[endif]-->.


<!--[if !vml]--><!--[endif]-->
<!--[if !supportFootnotes]-->

<!--[endif]-->
<!--[if !supportFootnotes]-->[1]<!--[endif]--> Inspirado no filme argentino Medianeras que assisti hoje.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Tédio com um T bem grande prá você


            Faz tempo que não escrevo.
Aliás, faz tempo que não faço coisas que me motivem e me inspirem a escrever.
É isso mesmo, prezado leitor, esta crônica estará carregada de tédio e melancolia. Se você está baixo astral, fuja!
           
Quem acompanha este blog deve lembrar que a autora dele - ou seja, esta que lhe escreve - foi submetida à cirurgia de gastroplastia, vulgo “redução de estômago” recentemente. Para ser mais exata, decorreram 37 dias desde a intervenção cirúrgica.
Posso dizer - e meus médicos atestam - que minha recuperação é um sucesso, pois quase não senti os efeitos orgânicos negativos da cirurgia e já eliminei mais de 16 quilos.
No entanto, uma reação não prevista aconteceu: Estou desanimada. Muito desanimada! Mais do que isso, tenho andado extremamente sensível, carente, entediada, irritada, prostrada, intolerante e baixo astral.
Tenho meus dias bons, mas, na maior parte do tempo, é dessa maneira que me sinto. 
       Não consigo ler nada de bom. Alugo filmes que não me seduzem a assisti-los, tenho preguiça de sair de casa, não quero voltar ao trabalho. Enfim, do dia 31 de julho para cá, esta foi a minha realidade:
- 0% de álcool;
- 0% de alimentos engordativos;
- 0% de sexo;
- 0% de coisas interessantes acontecendo;

Noutro dia, reclamando disso com um amigo, ele me respondeu: "Tá vendo só? Vida de magra é muito sem graça!". Quando o corrigi dizendo que ainda não estava magra, ele me advertiu: “Ou seja, vai piorar".
Confesso que me apavorei!

Como nenhum infortúnio vem sozinho, o meu tédio coincidiu com o da minha sobrinha, uma adolescente, projeto de gente esquisita, com a qual convivo diariamente.
Nas últimas semanas, ela tem acordado com aquela “cara de bunda” típica de alguém que está insatisfeita com a vida.
No intuito de querer dar cabo de nossa incômoda situação, me pus a pesquisar sobre o tema e eis que chego a uma interessante reportagem sobre o tédio entre adolescentes veiculado num programa dominical de TV. Eis um trecho:

Por que os adolescentes ficam entediados? 
Por Suzana Herculano-Houzel[1]

       Acontece com todo mundo. Chega um momento da vida em que tudo que a gente gostava de fazer - brincar de bola, de boneca, de carrinho, de pega-pega - deixa de ser interessante. 
É o tédio, um dos primeiros sinais do início da adolescência. Você provavelmente ouviu falar que o tédio, como várias outras chatices da adolescência, era culpa dos hormônios. Mas não é. 
A neurociência hoje tem uma resposta diferente: o comportamento adolescente é fruto de um cérebro adolescente, que está passando por uma série de transformações.
Uma das primeiras mudanças acontece bem no meio do cérebro, no sistema de recompensa. Esse é um conjunto de estruturas que, quando fazemos algo que dá certo ou que promete resultados muito legais, nos premia com uma sensação de prazer. Um prazer que tanto serve como recompensa quanto como motivação. 
Brincar de bola, de boneca, correr à toa, jogar videogames, são ótimas maneiras de ativar o sistema de recompensa das crianças. Acontece que, ao entrar na adolescência, o sistema de recompensa perde de um terço à metade de seu tamanho e também da sua sensibilidade. 
Isso significa que tudo o que antes dava prazer agora já não funciona mais tão bem. A boneca, a bola e os carrinhos são abandonados. Os heróis da infância são esquecidos. 
O que ainda funciona? Novidades. Por isso, os adolescentes precisam tão desesperadamente de novos prazeres: música, esportes, carinhos, comida, cinema - tudo isso na companhia de amigos, que têm as mesmas necessidades. 
Por mais que o tédio seja chato para os recém-adolescentes - e para seus pais que acham que a falta de interesse e preguiça são birra ou rebeldia - esse tédio é natural e tem uma função importantíssima. É ele que faz com que o jovem abandone a infância, se interesse pelo mundo adulto e vá buscar sua turma. 
Afinal, se a infância não perdesse a graça, quem iria querer trocar a brincadeira por trabalho?

Ok. Pelo que o que diz a reportagem, a situação de minha sobrinha é normal e, se tudo correr bem, passageira. Ótimo para ela! Daqui a pouco ela deixará, de vez, a infância para trás e adentrará no mundo adulto. Mesmo que se sinta desconfortável, triste e irritada vez ou outra, ela terá diversos outros interesses que lhe darão prazer e terá tantas outras recompensas como motivação.  

Mas e eu?
Tudo bem que eu tenha uma alma adolescente e, em termos de maturidade, tenho que admitir que sai dessa fase faz bem pouco tempo. Entretanto, eu sou uma mulher adulta de quase quarenta anos! Que tédio é este que me persegue há quarenta dias?
  Analisando mais atentamente a reportagem, percebo que ela não versa apenas sobre adolescentes. Contudo, ela dá algumas pistas para entender a minha atual situação.

      Devido à cirurgia, hoje sou como uma adolescente vivendo um período de transição. Afinal, o meu corpo e o meu cérebro estão passando por profundas transformações.
Por questões orgânicas, mas também por disciplina e um forte desejo de mudanças da minha parte, já não posso contar com alguns instrumentos de compensação como, por exemplo, a comida, que me dava prazer ao me entorpecer.
Também já não posso contar com aquele vinhozinho que me relaxava e me fazia companhia naquelas solitárias noites de sexta-feira sem programa.
Fora que, a despeito de minha inabalável libido, não tenho me contentado com aquele bom e velho sexo casual com os pratinhos[2] de sempre.

        O sistema de compensações de antes já não funcionam agora. E, apesar das perspectivas para o futuro serem promissoras - parafraseando Cazuza - o meu futuro é duvidoso. Afinal, não sou mais aquela Bia gordinha, engraçada, disponível, de baixa autoestima de antes, mas ainda não sou a Bia magra, saudável e bem resolvida que serei.
Você já deve ter pensado na solução para este impasse. Basta que eu crie novos sistemas de compensação e prazer.
Claro! É isso mesmo! Fácil, não é mesmo?
Não, não é...

         Abandonar, abrir mão, deixar para trás seja lá o que for não é uma coisa fácil, ainda mais em se tratando de antigos hábitos que davam prazer.
Mas é isso... Não tem jeito... Já dizia aquele o ditado típico de gordo: “Não é possível fazer uma deliciosa omelete (isso eu posso comer!) sem quebrar alguns ovos”.
Mudanças no meu comportamento são necessárias... Ops, isso me lembrou uma música e é com ela, sem mais delongas, que fecho este texto:

Solidão me deixe forte
Talvez resolva meus problemas



[1] http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/1,,MUL872875-15607,00.html
[2] Sobre o tema, leia a crônica intitulada “A Teoria dos Pratinhos” em: http://www.biamaianeves.blogspot.com.br/2012/01/teoria-dos-pratinhos.html