sábado, 17 de dezembro de 2011

Pertencimento

          Niterói é uma província e, claro, o niteroiense é um provinciano. Niteroiense de verdade bate no peito e diz que Niterói é a melhor cidade do mundo. Nasce e morre aqui. Quem namora um(a) “araribóia” já tem que saber que, se o relacionamento vingar, o seu lar fatalmente será em Niterói. Não há negociação. Niteroiense também costuma demarcar o território e se sente ofendidíssimo quando ouve dizer que São Gonçalo ou Maricá “é tudo Niterói”.


Não faço ideia do percentual, mas, diariamente milhares de nativos da “cidade sorriso” atravessam a Baía de Guanabara rumo aos seus empregos no Rio. Mas no final de semana? Ah... Isso nem pensar! O Rio é um lugar longe e perigoso.

Eu não sou assim. Não sou uma niteroiense típica. Adoro o Rio! Programa noturno que preste, para mim, só no Rio. Programação cultural, idem. Um bom boteco, a mesma coisa. Gente descolada e interessante é o carioca. Na verdade, arrumaria minhas malas tranquilamente e mudaria fácil, fácil para qualquer bairro da cidade maravilhosa. Bem, quero dizer, qualquer bairro não! Moraria facilmente na região do Centro e, óbvio, na zona sul. Não! Não a zona sul toda. No máximo até Botafogo. Copacabana e Ipanema são muito longe (de quê?)! Barra? Longe também e sem charme. Subúrbio? Nunca! Subúrbio por subúrbio já tenho o meu “Foncs”. Demarcando melhor o território, na verdade, o mais distante (de quê?) que eu iria seria a Tijuca (outra província) e alguns poucos bairros adjacentes.

Morei quatro anos no Grajaú. Um bairro residencial lindo! Conservador e com cara de cidade do interior. Adorei! Sinto saudades! Mas, quando fui obrigada a repensar a minha vida e decidir novos rumos e, consequentemente para onde ir, voltei para Niterói. Precisava me sentir acolhida. No Grajaú, apesar de realmente amar o lugar, me sentia permanentemente uma visitante.

É... Não sou uma niteroiense tão atípica assim. Defendo minha cidade dos cariocas que insistem em dizer que o que Niterói tem de melhor é a vista para o Rio. Quando viajo, só começo a me sentir realmente em casa quando estou chegando “deste lado de cá da poça” ou quando avisto o antigo Moinho Atlântico. Acredito piamente que, em comparação com o Rio, as melhores praias estão aqui. Outra coisa, mesmo no tempo que morei no Rio, meu domicílio eleitoral permaneceu em Niterói - e não foi por preguiça de transferir o título não, queria votar pelo o que acreditava ser o melhor para a minha cidade.

Enfim, sou, no fundo, no fundo, uma araribóia muito provinciana!

Entretanto, como disse antes, o niteroiense típico gosta de demarcar território, inclusive dentro da própria província. Então, não basta que eu seja niteroiense, tenho que ser bairrista. O que me leva ao tema deste texto, ou seja, PERTENCIMENTO.

Ontem, depois de uma manhã muito ruim no trabalho – no Rio, diga-se de passagem - tive como recompensa uma noite gostosa com minha irmã e sobrinha num restaurante na praia de São Francisco. Comida maravilhosa, gente bonita, música legal, companhia agradável, clima de festa pela nota dez que minha irmã recebeu na defesa de sua monografia de fim de curso.

Durante a conversa, olhei a paisagem, as pessoas e comentei: “engraçado, não me sinto em casa aqui”. Minha sobrinha completou: “É... Aqui não parece que é Niterói”. Mais tarde fiquei pensando no assunto e veio uma incômoda sensação de não pertencer a lugar algum.

Hoje de manhã, despertei antes do que gostaria e não consegui voltar a dormir. Resolvi aproveitar a situação para começar a seguir orientações médicas de fazer atividades físicas. E assim fui dar uma caminhada no Horto Botânico de Niterói.

No caminho todo o incômodo da noite anterior foi se dissipando: rostos familiares, buracos que já conheço de cor, melhor lugar para atravessar as duas pistas da Alameda, lojas, nome de ruas. Tudo tão íntimo, tão meu. No Horto a mesma coisa: árvores que estão lá e que conheço desde que sou pequena. O coreto, a sede do grupo de escoteiros que já fiz parte, a quadra, o lugar zoológico (que agora está fechado), a barraquinha de água de coco, a COAPI, mais rostos familiares. Na volta para casa encontrei um amigo do bairro que não via há mais de 15 anos e que, a despeito do meu novo visual de cabelos loiros e os muitos quilos a mais, me reconheceu imediatamente. Talvez se ele tivesse me visto em qualquer outro lugar, não saberia quem eu era.

Fonseca. Foi aqui que cresci com minha família, é aqui que meus pais ainda moram. Este bairro de passagem, barulhento e poluído que sempre achei que odiasse, hoje o vi como lugar ao qual eu pertenço. E, por mais que eu saia daqui - e quero sair brevemente - aqui é a minha casa.

Niterói, 13 dezembro de 2011.

2 comentários:

  1. Como dizia um conhecido, Barreto e Fonseca não servem pra nada.. Se eu fosse prefeito eu doaria o Barreto para SG e do Fonseca eu fazia um campo de Golfe!! kkkkkkkkk

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