terça-feira, 3 de abril de 2012

Saudades de coisas não vividas




     Uma amiga minha me perguntou dia desses o porquê de eu gostar tanto do filme Vicky Cristina Barcelona.


A resposta veio fácil à ponta de língua:
Este filme me faz sentir saudade de coisas não vividas. Sabe aquela sensação de nostalgia por coisas ou situações, mesmo sem nunca ter passado por elas?
Sinto saudade de usar aqueles vestidos bufantes da época do Brasil Império.  Saudade do primeiro Rock in Rio. Saudade do comício das Diretas Já. Saudade do show do Eric Clapton que, por duas vezes deixei de ir por falta de grana. Saudade de uma noite romântica – daquelas de filmes, onde ouvimos música e a perninha levanta quando rola o primeiro beijo. E por falar em romance, sinto saudade de alguém ter feito uma serenata para mim. Saudade de ter dado continuidade ao meu primeiro amor de verão que, como a própria expressão diz, durou apenas alguns dias da estação. Saudade de ter participado dos hi-fis em Araruama que meus irmãos e primos mais velhos contam com tantos detalhes. De vez quando - muito de vez em quando - sinto saudade de ter uma filha chamada Sofia. Saudade de morar numa república na época da faculdade. Saudade de que minha primeira vez tivesse sido com “você”.
Contudo, de todas as saudades de coisas não vividas, a maior delas é de ter passado uma temporada em algum país de Europa. Não estou dizendo 10 ou 2o dias não. Estou falando alguns meses, um ano até. Essa saudade começou quando vi o filme Albergue Espanhol, cresceu com Vicky Cristina Barcelona e hoje é uma saudade muito doída, principalmente ao acompanhar o diário de viagem da minha amiga Shirley.
       Por mais que eu ache que o Rio de Janeiro seja o melhor lugar do mundo para se viver, queria abrir meus horizontes auditivos, degustativos e visuais. 

          Queria visitar uma livraria e passar uma tarde lendo um romance em espanhol, italiano ou em francês nas escadarias de algum monumento de uma praça europeia. Queria caminhar pela Avenue des Champs-Élysées. Queria assistir algumas missas no Vaticano. Tomar vinho num piquenique com novos amigos que faria. Queria fazer novos amigos. Dormir num quarto de um antigo prédio da Bretanha. Queria andar pelas ruas olhando para cima e contemplando a arquitetura até que fique tão acostumada com a nova paisagem que acabe me sentindo em casa. Ter os Jardins do Monet como lugar habitual para reflexão. Queria fazer sexo em outra língua. Navegar no Bateau Mouche no Rio Sena. Fazer doideiras próprias da juventude tendo o céu da Toscana como testemunha.

Fotos: Shirley Torquato

No entanto, não sou mais jovem. E sou funcionária pública. Quer coisa mais segura e, ao mesmo tediosa, do que ter um emprego que não se deve jogar para o alto?
E assim, me restam àquelas lembranças melancólicas e, ao mesmo tempo suaves de todas as coisas não vividas. Imagens que não vi, amores que não vivi, sabores que não provei, pessoas que não conheci, tesão que não senti.
Talvez... Algum dia.          


4 comentários:

  1. Amiga,...
    a vida tem muitos caminhos e curvas. Isto significa que necessariamente teremos que "escolher" uma via em detrimento da outra. A vida é tão fugaz e isso que potencializa a nossa certeza de que sempre faltará algo. Ou por falta de tempo, oportunidade, dinheiro ou qualquer outro motivo.
    Adorei as fotos, rs
    Também sinto sua falta, beijos

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  2. Pôxa,minha irmã. Esqueceu q faremos o caminho de Compostela daqui a alguuuuuns anos? Eu vc e Claudia juntas, já pensou quantas emoções sentiremos? Quanta experiência vamos partilhar? Quem sabe?
    Bjs.
    Rita

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    1. É verdade, minha irmã... Depois de nossa viagem terei saudade coisas vividas. ;)

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  3. o que te impede de fazer essas coisas?

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