Uma amiga minha me perguntou dia desses o porquê de eu
gostar tanto do filme Vicky Cristina Barcelona.
A
resposta veio fácil à ponta de língua:
Este
filme me faz sentir saudade de coisas não vividas. Sabe aquela sensação de
nostalgia por coisas ou situações, mesmo sem nunca ter passado por elas?
Sinto saudade
de usar aqueles vestidos bufantes da época do Brasil Império. Saudade do primeiro Rock in Rio. Saudade do
comício das Diretas Já. Saudade do show do Eric Clapton que, por duas vezes
deixei de ir por falta de grana. Saudade de uma noite romântica – daquelas de
filmes, onde ouvimos música e a perninha levanta quando rola o primeiro beijo.
E por falar em romance, sinto saudade de alguém ter feito uma serenata para
mim. Saudade de ter dado continuidade ao meu primeiro amor de verão que, como a
própria expressão diz, durou apenas alguns dias da estação. Saudade de ter
participado dos hi-fis em Araruama que
meus irmãos e primos mais velhos contam com tantos detalhes. De vez quando -
muito de vez em quando - sinto saudade de ter uma filha chamada Sofia. Saudade
de morar numa república na época da faculdade. Saudade de que minha primeira
vez tivesse sido com “você”.
Contudo,
de todas as saudades de coisas não vividas, a maior delas é de ter passado uma
temporada em algum país de Europa. Não estou dizendo 10 ou 2o dias não. Estou
falando alguns meses, um ano até. Essa saudade começou quando vi o filme
Albergue Espanhol, cresceu com Vicky Cristina Barcelona e hoje é uma saudade muito
doída, principalmente ao acompanhar o diário de viagem da minha amiga Shirley.
Por
mais que eu ache que o Rio de Janeiro seja o melhor lugar do mundo para se
viver, queria abrir meus horizontes auditivos, degustativos e visuais.
Queria visitar uma livraria e passar uma tarde lendo um romance em espanhol, italiano ou em francês nas
escadarias de algum monumento de uma praça europeia. Queria caminhar pela Avenue des Champs-Élysées.
Queria assistir algumas missas no Vaticano. Tomar vinho num piquenique com
novos amigos que faria. Queria fazer novos amigos. Dormir num quarto de um antigo
prédio da Bretanha. Queria andar pelas ruas olhando para cima e contemplando a
arquitetura até que fique tão acostumada com a nova paisagem que acabe me
sentindo em casa. Ter os Jardins do Monet como lugar habitual para reflexão.
Queria fazer sexo em outra língua. Navegar no Bateau Mouche no Rio Sena. Fazer
doideiras próprias da juventude tendo o céu da Toscana como testemunha.
Fotos: Shirley Torquato |
No entanto, não sou mais jovem. E sou funcionária pública. Quer coisa
mais segura e, ao mesmo tediosa, do que ter um emprego que não se deve jogar
para o alto?
E assim, me restam àquelas lembranças melancólicas e, ao mesmo tempo
suaves de todas as coisas não vividas. Imagens que não vi, amores que não vivi,
sabores que não provei, pessoas que não conheci, tesão que não senti.
Talvez... Algum dia.
Amiga,...
ResponderExcluira vida tem muitos caminhos e curvas. Isto significa que necessariamente teremos que "escolher" uma via em detrimento da outra. A vida é tão fugaz e isso que potencializa a nossa certeza de que sempre faltará algo. Ou por falta de tempo, oportunidade, dinheiro ou qualquer outro motivo.
Adorei as fotos, rs
Também sinto sua falta, beijos
Pôxa,minha irmã. Esqueceu q faremos o caminho de Compostela daqui a alguuuuuns anos? Eu vc e Claudia juntas, já pensou quantas emoções sentiremos? Quanta experiência vamos partilhar? Quem sabe?
ResponderExcluirBjs.
Rita
É verdade, minha irmã... Depois de nossa viagem terei saudade coisas vividas. ;)
Excluiro que te impede de fazer essas coisas?
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