Eu te
avisei, moço. Não sou tão bem resolvida quanto pareço.
É fato que
as rédeas da minha vida estão sob o meu comando na maior parte do tempo. É
certo também que o sorriso no meu rosto e o meu bom astral - que você tanto
elogia - não são forçados, mas são frutos de uma vida independente e mais ou
menos feliz.
No
entanto, às vezes, sinto-me como um castelo de cartas. Estou de pé, equilibrada,
bem construída. Mas basta um vento, um peteleco, um leve balançar em minhas bases
para que eu comece a desmoronar.
Uma
notícia ruim, seguida de outra. O cansaço do dia-a-dia, a ausência ou a distância
de pessoas queridas. O excesso de responsabilidades. A falta de um cafuné num
dia de chuva. Uma TPM forte. Uma gripe. Um filme triste ou até um comercial de
margarina podem me transformar na mais chata das mulherzinhas.
E foi isso
que aconteceu. Quando eu menos esperava, fui invadida por um estranho desejo de
ser salva. Nos últimos dias aflorou em mim um forte complexo de Cinderela. Ansiei por alguém que amenizasse o choque
entre o mundo adulto e eu.
Tenho plena
consciência que este desejo é fruto de memórias e atitudes distorcidas que grande
parte das mulheres vivenciou na infância, ou seja, na crença de que uma menina sempre
terá alguém mais forte para sustentá-la e defendê-la.
Vejo amigas queridas, mulheres como eu, milhares e milhares de nós, criadas de modo que nos impossibilitam encarar a realidade adulta e assumir a responsabilidade por nós mesmas. Mas esta independência cansa e assusta. Como Cinderela, muitas mulheres de hoje ainda esperam por algo externo que venha transformar suas vidas. De quando em vez, sinto-me tão desamparada que me pego ligando para a minha mãe pedindo colo e só de ouvir um gostoso "estou aqui, minha filha", já me sinto cuidada.
Mas, "gato", não se preocupe. A farmácia
já entregou os medicamentos que a doutora me receitou para combater o quadro de
estresse que baixou minha imunidade, trazendo gripe, e que deixou o meu corpo
cheio de caroços. No entanto, preciso confessar que o melhor “remédio” foi sua presença
ao meu lado hoje de manhã. Ter você na sala de espera, foi muito bom!
Ah... Uma última coisa: fiquei curiosa para saber se você estava preparado para conhecer e cuidar desta minha versão “princesinha indefesa”. Afinal, nós, mulheres, ainda somos cinderelas, mas vejo que o homem de hoje já deixou de ter a postura de príncipe encantado há muito tempo. Sorte de vocês.
Niterói, 15 de maio de
2012.
Excelente texto, acho que o melhor seu até agora! Ritmo perfeito, frases marcantes... só senti falta de mais um parágrafo antes do último, para trabalhar mais a ideia da menina indefesa, que é muito instigante!
ResponderExcluirParabéns! Bjs
E percebo como é interessante quando a gente mesmo querendo ou gostando ou precisando dos momentos "mulherzinha", não consegue se desapegar da mais ou menos independência, da supostamente estruturada felicidade... Adoro o namorado fazendo cafuné... e as vezes perder o chão quando ele está longe... o negócio - e só o tempo dirá - é saber se estou preparada ou aberta para isso. Aberta para "abrir mão" da tal independência e de uma felicidade que parece só depender de mim... só parece...
ResponderExcluirAmiga,
ResponderExcluirtambém me pego assim de vez em quando. Apesar da aparência de cinderela indefesa, procuro manter minha autoresistência,até que um vento, uma chuva, ou um comercial de margarina derruba o meu frágil castelo de cartas! Nessas horas as pessoas queridas são os alicerces para recuperar a minha estrutura, e até isso acontecer nada melhor do que o carinho do namorado, o colo da mamãe ou de um(a) amigo(a) querido(a). Nós mulheres somos assim mesmo. Adoro me dar o direito de curtir meu lado mulherzinha em aguns momentos. Olha, admitir fragilidade em alguns momentos é um sinal de maturidade.
Beijo grandão com saudade amiga! MAs colo, só à distãncia por enquanto
É como eu sempre digo: a sorte de nascer atualmente é poder escolher qualquer personagem de tempos idos. Se hoje você quer se vestir de princesa, amanha veste uma máscara e faz a heroína e assim vamos, um dia após o outro.
ResponderExcluirParabéns pelo texto!!!!
ResponderExcluirEstá enxuto, direto e objetivo, ao mesmo tempo divertido e mostrando todas as nossas nuances femininas. Ou seja: está na medida querida!!!
Parabéns!!!
Bjs!!!
Verônica
Bia, texto perfeito! Gostei mesmo!!
ResponderExcluirNunca parei pra pensar nisso, mas eu também tenho complexos de Cinderela do nada! rsrs
Perfeito. Como sempre.
ResponderExcluirInstigante, sensato e com um tom humorístico, a Bia de sempre.
Bia , seja quem for o gato preocupa não. Homen gosta mesmo e do tipo fragil saca? Mulher independente e resolvida só faz sucesso em romance e novela das oito... então capricha ai na sindrome de cinderela, que eles adoram...
ResponderExcluirbeijos
Leila
Bia,
ResponderExcluirEstou falando sério: seus textos estão muitoooo bons!
Somos como caleidoscópios, não é mesmo? Somos de tudo um pouco....mas adoro essa nossa inconstância, essa complexidade feminina!Bjão e vai fundo!!