Desconfie
de alguém que afirme não ter preconceito contra nada.
Que
o dito-cujo faça um esforço de ser politicamente e eticamente correto para
vencer suas ideias pré-concebidas sobre coisas, pessoas e situações, tudo
bem... Mas não ter nenhum preconceitozinho? Duvido!
Da
minha parte, assumo: TENHO MUITOS PRECONCEITOS! Não deveria ter, mas tenho. É feio, eu sei. Mas fazer
o quê? Lutar contra eles, é claro! Aliás, tento combatê-los diariamente. Contudo,
infelizmente, não posso bater no peito dizendo que tenho uma mente
completamente aberta que aprecia e valoriza toda forma de diversidade humana.
Um
amigo meu, também sociólogo, me disse uma vez que não dá para levar a sério alguém
que tenha um rádio (Nextel) como celular. Até hoje eu não entendi o porquê. Ele diz saber
que é uma generalização preconceituosa, mas justifica afirmando que as
generalizações são necessárias para o desenvolvimento das análises científicas.
E assim,
com essa concessão acadêmica, elenco as minhas a seguir:
Eu fico
com o pé atrás com a pessoa que, estando numa festa, se levanta animadíssima ao
ouvir aquele grande sucesso de todos os tempos da última semana do sertanejo
universitário. Deus me livre então, quando a criatura em questão conhece os
passos da coreografia e ainda acompanha cantando a letra inteirinha. Para ser
mais específica, sou capaz de repensar a amizade com uma pessoa que permita que
o DJ toque este tipo de música em sua festa.
Além
disso, tenho preconceito contra pagodeiros, micareteiros, funkeiros,
gonçalenses, flamenguistas, advogados, gente que fala “menas” e contra aqueles
que, sem te conhecer, te chamam de “colega”, “nem”, “tia”. E também contra quem
assiste e, pior, insiste em conversar sobre programas como Big Brother, Zorra
Total e novelas das 19h da Globo.
Crio
antipatia imediata por pessoas que enchem a boca para dizer que odeiam
política.
Cultivo
também a categoria “pós-conceito”. Nessa estão os puritanos, os moralistas, os
certinhos e os metidos a muito honestos.
Por
último, destaco a minha aversão toda especial por frequentadores de academia. Acho-os todos uns marombeiros fúteis, metidos a gostosos sem nada na cabeça. Na verdade, fico
com o pé atrás com tudo que diz respeito à malhação. Odeio cheiro e músicas de
academias! Odeio essa moda fitness feminina que inclui decotes absurdos e meias
grossas esticadas até o joelho.
Acho
que sempre usei esse preconceito como uma desculpa para legitimar a minha total
indisposição para aos exercícios físicos. Sempre fui sedentária e gostaria de
continuar a sê-lo.
No
entanto, por essas ironias da vida, meu médico me obrigou a praticar atividade
física e indicou, especificamente, a musculação. Aos meus ouvidos soou mais ou
menos como “ou você para de fumar, ou morre”. Como quero viver - e de maneira
mais saudável - corri para me matricular numa academia badaladinha aqui perto
de casa.
No
entanto, antes de começar a “tomar o meu remédio” descobri que é necessário
fazer uma avaliação física com um profissional que definirá minha série. Logo,
logo, termos como supinos, mesa extensora, leg press, remada, flexora, halteres
e outros vão começar a fazer parte do meu novo dialeto marombês.
Como
a avaliação só acontecerá na próxima segunda feira e já que o investimento
financeiro foi feito, tenho um tênis e comprei umas calças coladas para malhar,
hoje fiz um rabo de cavalo e encaminhei-me, bonita e faceira, para minha
primeira aula de Zumba Fitness. É isso mesmo:
Me
senti voltando aos tempos de escola quando fazia aulas de jazz. Mas, ao invés
de Dirty Dancing, Madonna, Foot Loose e outros clássicos, a aula era uma
animada mistura de mambo, salsa, tango, funk, samba, soul, hip hop, capoeira,
etc. Pela primeira vez na vida ouvi os famosos refrãos “tche tche rere”; “oi oi
oi oi oi oi oi”; “ai, se eu te pego”.
É claro
que me atrapalhei toda com os passos rápidos do professor e suei como uma
condenada, mas, no fim, adorei! Juro! Durante a aula ri muito de mim e dos meus
preconceitos. No intervalo, ao conversar com uma aluna completamente fora
daquele estereótipo que havia criado, esta crônica veio prontinha à minha
cabeça.
Claro
que continuarei mantendo o sertanejo universitário fora do meu repertório
cotidiano, mas descobri assombrada, que é uma divertida forma de me exercitar.
Talvez
os preconceitos que alimentamos com tanto obstinação sirvam apenas para isso,
ou seja, para que percamos algumas boas oportunidades de queimar calorias.
Niterói, 11 de julho de
2012.
Bia, também tenho meus preconceitos musicais, mas concordo que (certa) música ruim também tem seu lugar: dançar um funk de Claudinho e Buchecha, ou coisa do tipo, com os amigos (ou a família Neves!), em um casamento, rindo e zoando, é maneiro! rs Realmente, não vou pôr isso pra tocar em casa ou no carro, mas, tendo um contexto, tá valendo!
ResponderExcluirBia, adorei essa crônica! Eu sempre assumi meus preconceitos, sabendo que é feio, como vc disse. Meu pai, ouvinte da boa música, sempre abominou o que não se enquadrava na MPB. Ele odeia Ivete até hoje. Mas, depois de velho, entrou na onda do brega. E ele me fala sempre uma coisa que tem muito sentido: "O brega tá na cabeça de cada um". Comecei a parar pra ouvir o tal do sertanejo universitário e sentia vergonha de mim mesma. Hoje eu gosto bastante das letras da dupla Victor e Leo e da Paula Fernandes. De fato, eles têm letras belíssimas. Bom, preconceito vencido. Se vc tiver um tempinho, vai apreciar não o ritmo ou as vozes, mas algumas letras bem elaboradas desses caras. Parabéns pelo Blog!
ResponderExcluirHa! Adorei estar, como flamenguista, no mesmo saco de gatos de tudo o que incomoda... Falem mal, mas falem de mim...
ResponderExcluirE, Bia, não acho que preconceitos,desde que não se manifestem de uma maneira agressiva, sejam exatamente ruins... Tudo que coloca a nossa calmaria "em xeque" é válido porque nos faz refletir e, até, mudar!
Preconceitos existem sim e eu tenho muitos, mas o que deve ser levado em conta é o respeito. A partir do momento em que a pessoa julga, fere, machuca, isso pra mim é o pior nível do preconceito.
ResponderExcluirSeja o que for, goste do que quiser, mas não imponha que isso é o melhor, pois não é. O que realmente importa nesta vida? Gostos musicais, falar bonito ou ser feliz e do bem? Difícil tarefa essa de conviver com adversidades, né? Mas essa é a essência da vida. Julgar menos e viver mais faz bem pra saúde. Me trabalho todos os dias para ser menos crítica e mais feliz.
Ah! E no meu casamento você irá dançar no meio da rodinha se tocar eu quero tchu, eu quero tcha! Hahahahahahahahaha
Bjs e adorei o texto preconceituoso!
Bia adorei mais essa cronica!!! E tirando a novela das 7 horas, para mim voce é apenas uma pessoa de bom gosto! Tambem não curto malhação. Talvez com um personal sem ter que enfrentar aquele ambiente de academia eu curtisse. Mas o unico personal que eu gostaria o primo Ronaldo, mora em nikiti. Mesmo assim teria que tomar um remedio amargo para mexer musculos, sem um contexto ludico que a dança nos proporciona.Agora acho que a Ana Luiza pontuou bem é dificil essa tarefa de conviver com adversidades, se bem que eu colocaria a palavra diversidades...E até danço o tchu tcha tcha no casamento dela com voce....rs.Só não concordo muito com o termo preconceito, pois como diz a palavra o pre é de algo que voce não viu, não provou, não ouviu, não tocou. No mais como somos seres diversos temos todo o direito do mundo a nossos pos conceitos sim. Que desde que não assumam uma cara de julgamento universal, também podem ser mutantes. Pois como me disse um amigo ontem a unica coisa fixa é a mudança . Beijo e Parabens pelo otimo texto. Leila Autran Neves. Ainda nao sei me identificar nesta coisa!!!!
ResponderExcluirOi, Leila!
ExcluirObrigada por sua leitura e por mais este comentário!
Convivemos com a diversidade na rua, no trabalho, em casa. A próxima crônica, inclusive, será sobre as diferenças entre mim e Claudia (Maria e Marta da Bíblia).
O preconceito a que me referi, diz respeito ao pré-julgamento que faço das pessoas que gostam de coisas ou agem fora dos MEUS padrões. Sei que soa como superioridade e é justamente nisso que consiste os preconceitos. Lembrando que o preconceito é um sentimento, sensação ou um pensamento. Se levarmos o preconceito a uma ação, aí que o "bicho pega".
Claro, que exagerei para o texto ficar divertido. Minha nova amiga de infância, por exemplo, gosta de tudo o que disse que tenho preconceito e, talvez por isso mesmo, goste tanto dela.
Li a crônica com um sorriso no rosto! Compartilhamos praticamente dos mesmos preconceitos!
ExcluirNão suporto essa moda de academia e essas músicas irritantes que nego insiste em querer enfiar nos nossos ouvidos. Sem falar nos flamenguistas né? Chatos por natureza! Hahaha
Muito bom mesmo Bia, parabéns!
Simplesmente demais Bia! Meus maxilares continuam esticados... muito bom pra continuar o dia...
ResponderExcluirBia, muito bom!
ResponderExcluirMinha listinha de preconceitos, que você já conhece, tem muitos pontos em comum com a sua. E tem um item novo que depois que vou te contar... aff!
Aproveito a oportunidade e o clima de reviravolta nos miolos para compartilhar isso aqui: http://revistaalfa.abril.com.br/estilo-de-vida/comportamento/a-culpa-nao-e-sua/
Beijos,
Lilian
Oieee Bia. Sou amiga da Lilian e conheci seu blog através dela. Me identifiquei com todo o seu texto, principalmete a parte: "Odeio cheiro e músicas de academias". Mas, realmente, os preconceitos nos privam de muita coisa, inclusive de nos divertir! Parabéns pelo Blog!!
ResponderExcluirTalita
kkkkkkkkkkkkkk rindo litros sozinha igual uma doida! Olha só:Com tantos preconceitos vc nem parece ser desse planeta. E o pior é que eu me encaixo direitinho nesse perfil de sertanejo, Big Brother, micareteiros e outros rssr E mesmo assim, vou continuar grudadinha em vc,quer vc queira ou não! Bjs amiga e parabéns por mais uma crônica brilhante! Sou sua fã. Algum preconceito contra TIÉTE? rsrs Se tiver....babou!
ResponderExcluirAdorei! Muito boa sua crônica, me identifiquei muito com a parte dos "marombeiros" e detesto essas mulheres que usam "decotes absurdos e meias grossas esticadas até o joelho". Só não gostei da parte que me toca(flamenguista), é claro! rsrs
ResponderExcluirCompanheira, quem pensa não ter preconceito na verdade não tem mesmo é autocrítica. Formamos nossos conceitos a partir de noções preliminares, precárias, pura empiria, enfim.... noções rasas. Dizem que as crianças são belas pois não têm preconceitos. Há uma ideia de pureza associada ao comportamento desses. Sei lá, penso que o que as crianças não têm é conceitos. O preconceito é uma espécie de autoproteção que quando levada ao limite torna-se bloqueadora e conduz a uma postura segregadora. Nós cientistas sociais não somos seres especiais e por isso temos nossos preconceitos. Nossa vantagem (se assim posso pretensiosamente denominar) é que somos treinados para praticarmos uma consciência social que possivelmente nos coloca acima da média, do dito "senso comum". Ainda assim, sou capaz de compreender o seu amigo que não confia em portadores de Nextel ou em quem assiste ao Video Show, só pra citar alguns exemplos. Eu mesmo desconfio dessas duas escolhas mas ainda assim ja arrumei uma namorada torcedora do império do mal, niteroiense, usuária de nextel e espectadora de novela e Big Brother. Enfrentei meus preconceitos? Cresci como pessoa? Aprofundei meus conhecimentos? Certamente sim. Mas também ganhei a oportunidade de transformar meus preconceitos em conceitos, Deus proteja as diferenças. Mas me proteja delas também. Há espaço para todos. Podemos conviver com cordialidade. E pra que tenha efeito admiro aquela campanha que diz: "vá ao TEATRO... mas NÃO ME COVIDE"! É isso. Viva as diferenças!!
ResponderExcluirBia, como sempre adorei o texto.
ResponderExcluirE fiquei com vontade de experimentar essa aula talvez seja a solução. Bjs
Ah, minha irmã você me encanta! Como disseram num comentário acima, ri muito e quanta honestidade. Parabéns.
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