segunda-feira, 16 de julho de 2012

Sinais de novos tempos

Quantas pessoas nessa vida podem dizer que assistiram a cerimônia de casamento dos próprios pais? Acredito que poucas e, dentre elas, tem a Dudinha.
Numa manhã de inverno carioca, com um tempo perfeito para um casamento ao ar livre, Maria Eduarda entregou as alianças dos seus pais para serem abençoadas por um padre. Diante da família e dos amigos, Ronaldo e Ana Luiza confirmaram seu amor e atestaram que querem permanecer unidos, partilhando uma vida em comum.
A história deles não é muito convencional. Conheceram-se em um acidente de carro, se apaixonaram, namoraram, se separaram, ela foi para longe e, ao voltar, se reencontraram e engravidaram, moraram juntos por cinco anos e ontem se casaram numa das duas cerimônias mais bonitas que já participei.
Alguém poderia dizer – e disse - que não entendia porque eles estavam fazendo isso, que era uma bobagem e um tradicionalismo fora de moda. Afinal, como diz o ditado “Amigado com fé, casado é”.
Mas eles queriam casar. Queriam ter seu rito de passagem. Queriam ter a benção de Deus. Queriam celebrar com as pessoas que lhe querem bem. E como celebraram! Foi uma festa linda! Sem ostentação, mas com tudo a que tinham direito: vestido branco, buquê, igreja, padrinhos e madrinhas, daminhas e pajem, fotógrafos, buffet, dança, etc. Tudo preparado no maior capricho e elegância, exceto o repertório musical – desculpe-me, Aninha, mas não podia perder a piada. 


Quem foi, testemunhou a felicidade do casal e entendeu tudo: O amor estava ali e eles queriam compartilhá-lo. Muita gente chorou! Não vi, mas, segundo me contaram, até a fotógrafa não conseguiu segurar as lágrimas.
Eu chorei. Assim como chorei em outra cerimônia que aconteceu há duas semanas.
Outra prima muito querida também celebrou seu casamento. Mas dessa vez, não teve padre, pastor, pai de santo, nem autoridade jurídica. Alessandra e Carlos professaram seus improvisados votos de fidelidade e amor e oficializaram sua união ao trocar alianças num belíssimo rito ecumênico, desprovido de qualquer formalidade. Quem conduziu a celebração foi o pai da noiva que os abençoou, seguido pelos familiares do noivo e cada um de nós que estava ali presente de maneira muito espontânea.
Acredito que esses dois casamentos marcam uma transição na minha enorme e complexa família. Os Neves, tão católicos e tão defensores dos tracionais valores morais e religiosos - alguns bastante obsoletos, em minha opinião -, vêm presenciando e acolhendo uma mudança de paradigmas.
Sinais de novos tempos? Acho precipitado afirmar isso. Mas, sem dúvida alguma, hoje me sinto menos anômala entre eles do que me sentia há alguns anos atrás, quando era vista por alguns como atrevida e rebelde.
Nelson Rodrigues afirmava que “a família é o inferno de todos nós”. Minha amiga Shirley, fã do anjo pornográfico, reinterpretou a frase e costuma dizer que a família é o céu e o inferno de cada um. Concordo com ela. A família é o nosso porto seguro, mas, ao mesmo tempo, a origem de nossas maiores angústias, pois, via de regra, é na família que são transmitidos e cobrados os valores da sociedade a que pertencemos como, por exemplo, os tabus morais e sexuais e o estabelecimento dos padrões de comportamento a serem seguidos.
Se a família, como instituição social, é um espelho da sociedade e, se a partir da minha podemos perceber que ela vem mudando, quem sabe daqui a poucas décadas encontremos pessoas mais felizes por serem mais autênticas em seus relacionamentos, sua sexualidade, enfim, em todos os âmbitos da vida?

E foi assim:
http://www.youtube.com/watch?v=ktf-9I9Tk0c

Niterói, 15 de julho de 2012.

2 comentários:

  1. Adorei amiga!!!
    Sem dúvida a família reflete muito do que somos e ainda que possa ser um exemplo do que não queremos seguir é o nosso principal referencial. Não é à toa que o antropólogo Levi Straus escreveu toda a sua teoria de compreensão da realidade social tendo como parâmetro as relações de parentesco e as inúmeras outras instituições que se organizam a partir dela.
    Sim, os casamentos mudam, as relações entre as pessoas mudam, mas não se transforam de uma hora para a outra. Os tipos de rituais podem mudar mas a importAncia deles na demarcação de espaços, estados e situações na vida social SEMPRE existirão, do contrário voltaríamos à vida meramente animal e selvagem.
    MAs que sua famílía é bem particular, ah isso é mesmo!rsrsrs
    Ah,já ia esquecendo, obrigada pelos créditos!!!!

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  2. Lindo Bia! Você colocou no papel, digo blog, todo o sentimento de amor e fraternidade que abençoava aquele casamento! Concordo plenamente quando você diz que, se nossa família tão religiosa, tradicional, às vezes careta, e na minha opinião também com ideias um tanto obsoletas, está passando por uma transformação, porém sem esquecer o verdadeiro significado de família e principalmente do "Bem Maior", então acredito que também a sociedade pode se transformar sem perder a sua originalidade; junto a tudo isto, desenvolve-se o respeito à diversidade e à pluralidade do humano.
    Sentimentos idênticos sobre céu e inferno no seio da família, nos tornam "gêmeas".
    Novamente, parabéns por este belíssimo texto.

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