Amanhã
deixarei este apartamento. Confesso que estou me sentindo meio nômade. Afinal,
desde que saí da casa dos meus pais, há sete anos, estou fazendo minha quarta
mudança.
Aliás,
mudar é só o que tenho feito nestes últimos anos. Mudei de endereços, de estado
civil e de espírito, de estilo de vida, de faixa de renda, mudei minha visão
sobre o mundo e a política. Mudei, principalmente, o meu conceito sobre mim
mesma.
Mas
falemos sobre este ap. Vim para cá
depois que me separei. Após um ano sozinha nele, tive a experiência de ter uma roommate. Eu e a Cris - que até então
era apenas a “amiga de uma amiga”, ou seja, praticamente uma desconhecida –
passamos a dividir o mesmo banheiro, a mesma geladeira, a mesma sala, a mesma
máquina de lavar roupa, as contas e, a medida que íamos nos conhecendo,
começamos a dividir também confissões em torno dos dramas e das expectativas de
ser mulher solteira. No entanto, a passagem dela por aqui foi breve e fiquei by myself nestes cômodos boa
parte do tempo.
E assim engrossei
as estatísticas que mostram que viver sozinha(o) é uma tendência mundial.
De acordo com estudos publicados, cada vez mais homens e mulheres moram sozinhos. Na Inglaterra, o índice de domicílios habitados por uma única pessoa é de 30%. Nos Estados Unidos, alcança os 25% - em Nova York, a “Meca” dos solteiros, mais da metade da população (50,6%) vive só. No Brasil, o número de indivíduos que moram sem companhia também aumenta a cada ano. Segundo a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2008, 11,6% dos brasileiros não dividem o teto com ninguém[1].
De acordo com estudos publicados, cada vez mais homens e mulheres moram sozinhos. Na Inglaterra, o índice de domicílios habitados por uma única pessoa é de 30%. Nos Estados Unidos, alcança os 25% - em Nova York, a “Meca” dos solteiros, mais da metade da população (50,6%) vive só. No Brasil, o número de indivíduos que moram sem companhia também aumenta a cada ano. Segundo a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2008, 11,6% dos brasileiros não dividem o teto com ninguém[1].
Outra pesquisa
sobre o tema revela que quem vive sozinho
está longe de ser solitário, pelo contrário, possui até mais amigos de quem
está casado ou mora em um coletivo. Tem ainda o estudo conduzido pela
professora de sociologia Erin Cornwell, da Universidade de Cornell, entre 2000
e 2008, que descobriu que pessoas com mais de 35 anos morando sozinhas seriam
mais suscetíveis a ir a um evento social noturno com vizinhos e amigos do que
aquelas casadas ou que viviam com seus parceiros[2].
Se tivessem me entrevistado talvez respondesse que,
de fato, tenho saído mais agora, que estou solteira, do que quando era casada.
Contudo, aprecio muito minhas esbórnias domésticas.
Diversas vezes minha cozinha se transformou num
verdadeiro espaço gourmet onde o meu amigo Mauro deu vazão aos seus dotes
culinários. Eu, Lilian e Shirley apreciávamos de bom grado estes momentos
regados a vinho e ótimos – e politicamente incorretos - papos furados. Teve também
aquela maravilhosa noite japonesa produzida pelo sushiman Otávio. Pena que foi só uma vez, não é mesmo, Camille e
Thaís?
Outras vezes, minha sala se transformou num pequeno
cinema. A Fabricia foi a frequentadora mais habitué,
mas também compareceram o casal Roberta-Clóvis. E por falar em casal, foi neste
ap que abri meu coração para os amigos Abdala e Simone num dia verdadeiramente triste.
Várias pequenas festas foram feitas aqui. Destaque para minha celebração de descasamento onde festejei o fim de um bom
ciclo da minha vida. Teve também aquele aniversário que comemorei com um workshop de produtos eróticos. Dias
depois, um casal amigo experimentou alguns dos produtos na MINHA cama!
Festinhas individuais foram comuns também. Nestas, eu
queria desfrutar da minha própria companhia.
Em outras situações, a festa era a dois e o meu
quarto se transformava numa alcova. Um ou outro, por ter conseguido
chegar ali, passou a se achar dono do pedaço. Como sou dessas mulheres que
dizem sim, fiz suas vontades, disse meias verdades à meia luz. Fiz-lhe vaidoso e
deixe-o supor que era o maior e que me possuía. Mas tão logo se mostrava despreparado
para encarar este mulherão complexo que sou, era descartado do meu folhetim.
Outros, confesso, gostaria que tivessem ficado mais. Na verdade, um em especial.
O cara mais doce que conheci tinha um jeito manso só seu.
Ele roubou os meus sentidos, violou os meus ouvidos com tantos segredos
lindos e indecentes. Durante algum tempo, eu fui sua menina e ele foi o
meu rapaz. Meu corpo e este apartamento foram testemunhas do bem que ele
me fez.
Mas amanhã entregarei as chaves do meu lar. Algumas
dessas lembranças ficarão fixadas aqui, nas paredes destes cômodos e outras tantas
nas paredes da minha memória. Móveis, roupas e eletrodomésticos foram doados.
Não há espaço na minha nova morada temporária. Joguei fora cartas e fotografias
de gente que foi embora. Espero que a nova casa fique bem melhor assim.
Por uma temporada de seis meses não mais morarei
sozinha. Por uma escolha que fiz, ficarei abrigada na casa da minha irmã. Terei o
carinho e o cuidado dela e da minha sobrinha numa situação que, em breve, necessitarei
de cuidados especiais.
As esbórnias domésticas serão suspensas
temporariamente. Não haverá momentos de alcova, espaço gourmet, tampouco terei
tanta liberdade em promover sessões de cinema para os amigos.
No entanto, uma sensação de vida que segue está me
invadindo agora.
Milan Kundera afirmou em seu maravilhoso livro A
Insustentável Leveza do Ser que "a nossa vida não é como
um rascunho, a gente não pode simplesmente amassar o papel e começar tudo
novamente." Concordo que não há possibilidade de fazer
rascunhos na vida, afinal só vivemos vivendo. Mas acredito que sempre há
possibilidade de recomeços. Este é apenas mais um para mim.
Niterói, madrugada do
dia 30 de maio de 2012.