"Não existe pecado. Toda essa conversa sobre pecado só existe na nossa cabeça. A igreja inventou o pecado. De um lado espalhando culpa, de outro oferecendo redenção".
Uma personagem de um filme que acabei de ver fala isso para seu marido pastor. É claro que há os valores que cada sociedade impõe, mas quem os cria afinal?
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
sábado, 17 de dezembro de 2011
Pertencimento
Niterói é uma província e, claro, o niteroiense é um provinciano. Niteroiense de verdade bate no peito e diz que Niterói é a melhor cidade do mundo. Nasce e morre aqui. Quem namora um(a) “araribóia” já tem que saber que, se o relacionamento vingar, o seu lar fatalmente será em Niterói. Não há negociação. Niteroiense também costuma demarcar o território e se sente ofendidíssimo quando ouve dizer que São Gonçalo ou Maricá “é tudo Niterói”.
Eu não sou assim. Não sou uma niteroiense típica. Adoro o Rio! Programa noturno que preste, para mim, só no Rio. Programação cultural, idem. Um bom boteco, a mesma coisa. Gente descolada e interessante é o carioca. Na verdade, arrumaria minhas malas tranquilamente e mudaria fácil, fácil para qualquer bairro da cidade maravilhosa. Bem, quero dizer, qualquer bairro não! Moraria facilmente na região do Centro e, óbvio, na zona sul. Não! Não a zona sul toda. No máximo até Botafogo. Copacabana e Ipanema são muito longe (de quê?)! Barra? Longe também e sem charme. Subúrbio? Nunca! Subúrbio por subúrbio já tenho o meu “Foncs”. Demarcando melhor o território, na verdade, o mais distante (de quê?) que eu iria seria a Tijuca (outra província) e alguns poucos bairros adjacentes.
Morei quatro anos no Grajaú. Um bairro residencial lindo! Conservador e com cara de cidade do interior. Adorei! Sinto saudades! Mas, quando fui obrigada a repensar a minha vida e decidir novos rumos e, consequentemente para onde ir, voltei para Niterói. Precisava me sentir acolhida. No Grajaú, apesar de realmente amar o lugar, me sentia permanentemente uma visitante.
É... Não sou uma niteroiense tão atípica assim. Defendo minha cidade dos cariocas que insistem em dizer que o que Niterói tem de melhor é a vista para o Rio. Quando viajo, só começo a me sentir realmente em casa quando estou chegando “deste lado de cá da poça” ou quando avisto o antigo Moinho Atlântico. Acredito piamente que, em comparação com o Rio, as melhores praias estão aqui. Outra coisa, mesmo no tempo que morei no Rio, meu domicílio eleitoral permaneceu em Niterói - e não foi por preguiça de transferir o título não, queria votar pelo o que acreditava ser o melhor para a minha cidade.
Enfim, sou, no fundo, no fundo, uma araribóia muito provinciana!
Entretanto, como disse antes, o niteroiense típico gosta de demarcar território, inclusive dentro da própria província. Então, não basta que eu seja niteroiense, tenho que ser bairrista. O que me leva ao tema deste texto, ou seja, PERTENCIMENTO.
Ontem, depois de uma manhã muito ruim no trabalho – no Rio, diga-se de passagem - tive como recompensa uma noite gostosa com minha irmã e sobrinha num restaurante na praia de São Francisco. Comida maravilhosa, gente bonita, música legal, companhia agradável, clima de festa pela nota dez que minha irmã recebeu na defesa de sua monografia de fim de curso.
Durante a conversa, olhei a paisagem, as pessoas e comentei: “engraçado, não me sinto em casa aqui”. Minha sobrinha completou: “É... Aqui não parece que é Niterói”. Mais tarde fiquei pensando no assunto e veio uma incômoda sensação de não pertencer a lugar algum.
Hoje de manhã, despertei antes do que gostaria e não consegui voltar a dormir. Resolvi aproveitar a situação para começar a seguir orientações médicas de fazer atividades físicas. E assim fui dar uma caminhada no Horto Botânico de Niterói.
No caminho todo o incômodo da noite anterior foi se dissipando: rostos familiares, buracos que já conheço de cor, melhor lugar para atravessar as duas pistas da Alameda, lojas, nome de ruas. Tudo tão íntimo, tão meu. No Horto a mesma coisa: árvores que estão lá e que conheço desde que sou pequena. O coreto, a sede do grupo de escoteiros que já fiz parte, a quadra, o lugar zoológico (que agora está fechado), a barraquinha de água de coco, a COAPI, mais rostos familiares. Na volta para casa encontrei um amigo do bairro que não via há mais de 15 anos e que, a despeito do meu novo visual de cabelos loiros e os muitos quilos a mais, me reconheceu imediatamente. Talvez se ele tivesse me visto em qualquer outro lugar, não saberia quem eu era.
Fonseca. Foi aqui que cresci com minha família, é aqui que meus pais ainda moram. Este bairro de passagem, barulhento e poluído que sempre achei que odiasse, hoje o vi como lugar ao qual eu pertenço. E, por mais que eu saia daqui - e quero sair brevemente - aqui é a minha casa.
Niterói, 13 dezembro de 2011.
Considerações sobre tempo, idade e o envelhecimento
Este final de semana coincidiram duas experiências que me levaram a refletir sobre o tema. Ontem participei de uma grande festa de comemoração pelos de 80 anos de um tio querido. A pista de dança - muito concorrida - uniu adultos (crianças e menores de 20 anos foram barradas) de várias gerações. A certa altura, já cansada, fui me sentar e a mim se juntou uma tia de 79 anos que soltou a seguinte sentença "acho que eu tenho comichão". Levantou-se e voltou para a pista de dança.
Hoje fui ao cinema e assisti a maravilhosa (e envelhecida) Isabella Rossellini interpretando uma mulher que, de uma hora para outra, se dá conta de que envelheceu e tenta convencer seu marido disto também, mas ele se nega a aceitar a idade que tem. O filme LATE BLOOMERS - O AMOR NÃO TEM FIM traz uma discussão sobre "idade real" (dispensa explicações) X "idade cognitiva" (aquela que você sente que tem).
Está explicado as minhas constantes crises de identidade com relação a idade: às vezes sinto-me como um dos meus alunos e alunas de 15 e 18 anos, às vezes como uma jovem indecisa de 25, às vezes uma mulher segura e madura de 37 anos e às vezes uma velha que se comporta como velha.
Mas uma coisa está certo, quando chegar a hora, quero ter a idade real e cognitiva dos meus tios e tias da festa de ontem...
Niterói, 27 de novembro de 2011.
O que eu gostaria de ter falado hoje
Hoje vocês choraram pela despedida dos amigos da escola. Disseram que têm medo, que nunca terão amigos como estes e que estas amizades serão eternas. Fizeram uma bagunça linda pelos corredores da escola com um verdadeiro panelaço e invadiram as salas das invejosas turmas de séries mais novas. Fizeram guerrinha de bolinhas de papel na minha aula (por favor, esqueçam aquilo que eu fiz com as provas de vocês, ok?).
Alguns se despediram agradecidos de professores. Lágrimas e mais lágrimas. Um verdadeiro chororô. Consolei emocionada alguns alunos mais próximos. Confesso que segurei o choro, afinal, é a primeira turma que vejo se formar tendo eu acompanhando-os enquanto professora de Sociologia e Filosofia desde a 1ª série do E.M.
É... A escola acabou!
Como bem disse um colega de vocês que saiu da escola no ano passado, vocês sentirão falta do Olimpo. Na escola que agora se despedem, da direção aos funcionários, o SOE e os professores conhecem suas respectivas histórias de vida. Todos se conhecem. Vocês são tratados pelos nomes e não por número de matrícula. Alguns mais, outros menos, foram tratados como reis ou pequenos deuses. Adianto-me a prevenir: Preparem-se! A vida “lá fora” não é bem assim. As relações deixam de ser primárias e tornam-se, muitas vezes, frias, impessoais e competitivas, seja na faculdade ou no mercado de trabalho. Cada um(a) de vocês será apenas mais um no meio da multidão.
Mas prometo: o melhor está por vir!
Acabou-se o tempo da falta de identidade provocada pelo uso do uniforme; das broncas muitas vezes injustas, do controle constante, dos horários rígidos, da falta de participação do processo de produção do conhecimento, dos amigos mais ou menos iguais.
Sejam bem vindos à diversidade: de pessoas, de ideias, de valores, de costumes.
Ao entrarem na faculdade, participem do movimento estudantil, das chopadas, das discussões políticas nas mesas de bar, dos debates acadêmicos (e outros nem tão acadêmicos assim). Discordem dos professores, exijam qualidade no ensino, mas estudem para não perderem a razão. Produzam, criem, teorizem, pratiquem. Façam novos amigos, vivam amores, chorem por eles. Vivam outros. Tornem-se adultos, mas não se esqueçam de manter este frescor, a curiosidade e a rebeldia da adolescência.
E quando precisarem de colo, estamos aqui.
Boa sorte na vida!
Com muito carinho,
Bia Maia Neves.
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