Além de ter várias funções, para
mim, ele é inspirador.
Sei que alguns amigos acham que me exponho muito e tudo o
mais, mas foi num desses excessos cometidos que tirei o material para esta crônica.
Há cerca de uma hora atrás postei a seguinte frase no mural
da rede social:
Se eu não acordar depois da
cirurgia, quero que todos saibam que fui feliz!
Alguns poucos entenderam que eu estava brincando e mais
outros perceberam que, na verdade, eu estava querendo chamar a atenção.
Para os que acreditaram digo: Gente! É óbvio que não quero e,
se Deus concordar com a minha vontade, não vou morrer. Aliás, vou me submeter
ao tratamento cirúrgico de “Gastroplastia com anel e bypass por
videolaparoscopia”, vulgo “redução de estômago”, justamente para viver mais e
melhor.
Entretanto, como em todas as cirurgias, na minha também há
riscos. Qual o susto?
Para ser ainda mais realista, posso morrer até mesmo antes da
cirurgia. Na madrugada de hoje, enquanto eu estiver dormindo, a morte pode me
levar com um aneurisma cerebral. Caso eu acorde, posso morrer a caminho do
hospital, num acidente de carro. Imagine se um avião cair no meio da pista do
aterro do Flamengo enquanto eu estiver passando em frente ao Aeroporto Santos
Dumont, no caminho de volta de Copacabana à Niterói.
Uma morte mais divertida e glamourosa – e mais a minha cara – teria o seguinte enredo: Eu
emagrecerei, isto é certo! Mas ficarei tão linda, tão linda que logo, logo arrumarei
um namorado endinheirado. Ele cobrir-me-á de presentes e um desses será um
colar caríssimo. Visitaremos o motel mais chique de Niterói e tomaremos um
delicioso banho na hidromassagem. Mas, por algum defeito nas engrenagens (as
coisas caras também por dar defeito) o tal colar vai enroscar na saída de água
e eu posso morrer estrangulada. Este exemplo foi baseado em uma história real que
uma amiga viveu, mas graças a Deus e ao colar vagabundo que arrebentou, ela
ainda está aí... Vivinha da Silva!
Já até imaginei a cara de terror de alguns leitores ao ler
este monte de bobagens. Com o intuito de apavorá-los ainda mais, dei-me o
trabalho de pesquisar sobre mortes absurdas e achei algumas, mas estou com
preguiça de transcrevê-las e encaixá-las neste texto. Quem quiser conferir, eis
o link:
http://pudim.info/wiki/Mortes_estranhas
http://pudim.info/wiki/Mortes_estranhas
Mau agouro falar em morte às vésperas de uma cirurgia? Que
nada! Eu sei que é clichê, mas quero lembra-los que a única certeza que temos
nesta vida é justamente a da nossa morte! Sendo assim, por que não brincar,
falar ou escrever sobre ela?
Sem querer ser desrespeitosa com ninguém, gostaria de advertir
que a morte vive entre nós. Ela, por mais paradoxal que isso possa parecer, faz
parte de nossas vidas.
Zilda Arns, médica sanitarista, fundadora e coordenadora
internacional da Pastoral da Criança que lutava pela erradicação da mortalidade
infantil, morreu, aos 73 anos, naquele terrível terremoto que atingiu 7 graus
na escala Richter no Haiti, em 2010. Ela estava no país cumprindo agenda de
palestras em defesa da vida.
Na sétima volta do Grande Prêmio de San Marino, no autódromo
de Ímola, na Itália, Ayrton Senna passa direto pela curva Tamburello a 300 quilômetros
por hora e espatifa-se no muro de concreto.
Dias desses foi inaugurada a Praça Memorial 17 de julho como
forma de homenagear as 199 vítimas do acidente com o voo TAM JJ3054, que explodiu no aeroporto de
Congonhas, em São Paulo, há cinco anos.
Não tão raro trabalhadores morrem por exaustão em canaviais
pelo Brasil afora ou em outras situações desumanas em todo o mundo.
Para citar outros exemplos mais próximos, minha tia Vitória
era a segunda mais nova dos treze irmãos do meu pai e faleceu em dezembro
passado. Da minha família por parte de mãe, só ela e meu avô chegaram aos
setenta anos até agora, o que faz com que minha velhinha celebre a vida a cada
dia. Meu tio Hélio morreu aos 36 anos com uma parada cardíaca fulminante
deixando uma jovem esposa e seus quatro filhos. Meu primo Duda morreu aos 27 em
decorrência de um melanoma – um tipo de câncer de pele -, seis meses após a
celebração do seu casamento.
Diante disso tudo, às vésperas de uma situação que vai mudar
a minha vida, não consigo parar de pensar sobre a possiblidade da minha morte.
Dizem que diante da eminência dela, as pessoas costumam
assistir a um filme de sua vida. Não cheguei a tal ponto – talvez isso seja um
bom sinal - mas consegui fazer um brevíssimo balanço e tenho total segurança para
repetir aqui o que escrevi mais cedo no facebook: FUI FELIZ!
Não realizei grandes projetos, não fiz nada de extraordinário.
Para falar a verdade sou umas das pessoas mais comuns que conheço. No entanto,
sinto-me agraciada por Deus. Como não me sentir assim?
Tenho uma família maravilhosa, fui amada e amei algumas
vezes. Não tive filhos, mas escrevi duas monografias e essas vinte e poucas
crônicas publicadas no Mulher Solteira
Não Procura. Cultivo algumas plantinhas, e plantei tantas outras mini árvores
em vários lugares por onde passei. Tenho alguns bons e verdadeiros amigos. Cumpri
uma pequena função social ao despertar o senso crítico em alguns alunos que
passaram pelas salas onde dei aulas de Sociologia e Filosofia, contudo, fui uma
péssima referência (dependendo do ponto de vista) para meus sobrinhos e
sobrinhas.
Portanto, queridos e queridas, se a “temida” vier me buscar,
não chorem por mim. Antes, façam um show de rock no meu funeral daqui a uns...
40 anos, quem sabe? Porém, por via das dúvidas, adianto-me a oficializar e tornar público o meu testamento[1]::
Para toda a minha numerosa família e para os meus amigos, deixo a felicidade de tê-los ao meu lado e para “você”, em especial, deixo-lhe o meu sorriso que você tanto gosta:
Niterói,
30 de julho de 2012.
[1] De material,
deixo:
- Algumas dívidas com instituições financeiras capitalistas que exijo que não sejam pagas;
- Alguns livros de Sociologia para minhas queridas colaboradoras Beatriz, Dayana e Larissa e outros de Filosofia para o Leo;
- Os romances deverão ser distribuídos entre outros amigos e familiares que chegarem primeiro, assim como alguns móveis e eletrodomésticos;
- Carlinhos e Rodolfo, fiquem com as poucas garrafas de vinho que me sobraram;
- Thaís e Marcelle, resolvam-se quanto a cama de casal e os meus quadros;
- Daniel, meu afilhado, fique com a pequeníssima quantia em dinheiro que está aplicada;
- Para Izabela e Camila deixo minha pequena fonte;
- Para Juliana, deixo meu gatinho de pano;
- Quanto às poucas roupas que prestam, deixo-as para as gordinhas que ainda não tiveram coragem de tomar uma atitude.
- Flavio, não se esqueça de que você tem direito a pensão. Providencie e divida entre você e quem mais precisar.
- Algumas dívidas com instituições financeiras capitalistas que exijo que não sejam pagas;
- Alguns livros de Sociologia para minhas queridas colaboradoras Beatriz, Dayana e Larissa e outros de Filosofia para o Leo;
- Os romances deverão ser distribuídos entre outros amigos e familiares que chegarem primeiro, assim como alguns móveis e eletrodomésticos;
- Carlinhos e Rodolfo, fiquem com as poucas garrafas de vinho que me sobraram;
- Thaís e Marcelle, resolvam-se quanto a cama de casal e os meus quadros;
- Daniel, meu afilhado, fique com a pequeníssima quantia em dinheiro que está aplicada;
- Para Izabela e Camila deixo minha pequena fonte;
- Para Juliana, deixo meu gatinho de pano;
- Quanto às poucas roupas que prestam, deixo-as para as gordinhas que ainda não tiveram coragem de tomar uma atitude.
- Flavio, não se esqueça de que você tem direito a pensão. Providencie e divida entre você e quem mais precisar.